O Globo, n.31.585, 28/01/2020. País. p.06

Indicação para vaga no STF seria ‘interessante e natural’, afirma Moro
Guilherme Caetano 

 

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, considerou ontem ser “natural” sua indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF) após a aposentadoria do ministro Celso de Mello. Em entrevista ao programa “Pânico”, da rádio Jovem Pan, Moro disse ainda que a possibilidade de separação da Segurança Pública de sua pasta foi encerrada pelo gesto do presidente Jair Bolsonaro, na última sexta-feira, de colocar panos quentes no assunto.

Moro frisou que cabe ao presidente a decisão de indicá-lo para a vaga que será aberta no STF em novembro, quando o decano da Corte, ministro Celso de Mello, completará 75 anos e terá de deixar o cargo.

— Não gosto de discutir vaga quando ela não existe. É um negócio meio esquisito. Parece que estou aposentando o ministro antes dele se aposentar. Acho que é uma perspectiva que pode ser interessante e natural na minha carreira. Eu venho da magistratura, né? Mas a escolha evidentemente cabe ao presidente —disse Moro.

O ministro da Justiça ponderou que há alternativas ao seu nome, como o advogado-geral da União (AGU), André Mendonça, e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Jorge Oliveira.

— Há outros nomes e acho que o presidente só vai fazer a escolha no momento apropriado. Mas dizer, assim, que eu não gostaria? Claro (que gostaria) —declarou.

Questionado sobre o atrito com Bolsonaro na última semana, quando o presidente disse estudar a recriação do Ministério da Segurança Pública separado à pasta da Justiça, Moro tratou o episódio como encerrado. O ex-deputado Alberto Fraga, aliado próximo a Bolsonaro e cogitado como possível ministro da pasta caso ela fosse recriada, chegou a alfinetar o trabalho de Moro na área. Fraga pediu que fosse apontada “uma medida que ele (Moro) adotou” para a redução de índices de criminalidade no país, uma das principais vitrines na gestão do ministro.

Ao admitir que estudava a possibilidade de dividir o ministério da Justiça e Segurança Pública em dois, o que diminuiria as atribuições de Moro, Bolsonaro admitiu que “é lógico que Moro deve ser contra”. Na sexta, o presidente recuou e disse que “a chance de dividir (o ministério) no momento é zero”, mas deixou uma brecha para uma futura divisão ao dizer que “na política as coisas mudam”.

A decisão de Moro de entrar na rede social Instagram na última quinta-feira, em meio à crise envolvendo o ministério, acendeu um sinal de alerta para Bolsonaro, que tem visto o ministro superálo em popularidade nas últimas pesquisas de opinião e manifestou a aliados incômodo com a crescente exposição do auxiliar. Ontem, Moro disse que não tem motivo para deixar o governo e negou que tenha intenção de disputar a Presidência.

— A gente tem toda uma agenda a ser realizada no governo até 2022. Ele se colocou como candidato à reeleição e eu, como ministro, tenho de apoiá-lo. Não tem outra alternativa —afirmou.