O Globo, n.31.586, 29/01/2020. Sociedade. p.27

Justiça libera, e MEC divulga classificação final do Sisu
Bruno Alfano 
Carolina Brígido 


 

Após uma sucessão de erros e reclamações, o Ministério da Educação (MEC), liberado pela Justiça, divulgou ontem o resultado final do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2020. Hoje começam os prazos para matrícula da chamada regular e também para os candidatos apresentarem interesse em participar das listas de espera.

O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro João Otávio de Noronha, foi o responsável por julgar o recurso da Advocacia Geral da União (AGU) e liberou a publicação do resultado do Sisu. Na decisão, ele afirma que o MEC e o Inep “pecaram pela deficiente comunicação com a sociedade”, mas que, ao analisar os documentos, não se vê na dade“errado ou lesivo” aos estudantes. Segundo Noronha, “as provas inicialmente corrigidas com o gabarito inadequado foram, todas elas, revisadas e tiveram suas notas readequadas”.

A Defensoria Pública da União (DPU), autora da ação que suspendeu a divulgação do resultado do Sisu, também entendeu que os documentos apresentados pela AGU comprovaram as correções. De acordo com o defensor João Paulo Dorini, o governo demonstrou que a Cesgranrio e a Fundação Getúlio Vargas, aplicadores e corretores do Enem, “afirmam categoricamente” que 100% das provas foram submetidas à revisão.

Com as informações na mão, a DPU pediu ao juiz de 1ª instância que derrubasse a liminar por entender que a decisão havia sido cumprida.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que vai conversar com o ministro da Educação, Abraham Weintraub, para saber o que aconteceu.

—O Enem está complicado. Quero saber se realmente foi uma falha nossa, se tem uma falha humana, sabotagem, seja lá o que for —declarou.

‘IMAGEM PREJUDICADA’

No domingo, às 23h59m, terminou o prazo para que os estudantes fizessem a inscrição no Sisu. Foram 1.823.871 inscritos nesta etapa — no ano anterior, haviam sido 2.117.908. Neste semestre, são ofertadas 237.128 vagas em 128 instituições de ensino em todo o país.

Uma dessas vagas ficou com Maria Esther Gomes, de 18 anos. Moradora de Viçosa, em Minas Gerais, ela teve a nota corrigida de 602,4 para 785,54. Com a mudança,conseguiu a sonhada vaga em Medicina, na Universidade Federal do Espírito Santo.

—Se não houvesse a correção da nota, não conseguiria — conta Maria Esther.

— Quando vi a aprovação, só senti alívio e felicidade.

Para Maria Inês Fini, que participou da criação do Enem quando era diretora de Avaliação para Certificação de Competências do Inep, entre 1996 e 2002, e também foi presidente do instituto entre 2016 e 2018, todo esse processo conturbado prejudicou a imagem do Inep.

— Houve uma falha mecâO nica da gráfica, mas também faltou a checagem do Inep. Essa conferência deveria ter sido feita direito —afirma.

Secretário executivo da Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Gustavo Balduino afirma que a liberação dos resultados na tarde de ontem não prejudicou o calendário de inscrições das universidades.

Já o presidente da União Nacional do Estudantes (UNE), Iago Montalvão, criticou a liberação das notas.

— Isso afeta aqueles estudantes que ainda questionam as suas notas e não tiveram a oportunidade de ter a correção revisada —diz.

Os problemas no Enem começaram no momento da divulgação das notas, no último dia 17, quando alunos identificaram problemas de correção. O governo admitiu que quase seis mil candidatos (0,15% do dotal de 3,9 milhões de pessoas que fizeram a prova) tiveram os resultados corrigidos.

Depois, os estudantes reclamaram de uma mudança não anunciada no Sisu que praticamente invalida a nota de corte como parâmetro para a escolha do curso. Durante o período em que o Sisu está aberto, os alunos acompanham as notas de corte das suas duas opções. Caso elas subam além da sua pontuação, buscam outro curso. O novo modelo, no entanto, não excluiu da segunda opção os alunos que conseguiram a vaga na primeira. Isso fez com que a nota subisse artificialmente —pois os candidatos ficam só com a primeira escolha.

PROUNI ABERTO

O MEC anunciou que vai prorrogar em mais um dia o período de inscrição no Programa Universidade para Todos (Prouni) que começou ontem à noite. Agora, o prazo para concorrer às 251 mil vagas vai até este sábado. As inscrições são feitas pelo site prouni.mec.gov.br, utilizando as notas do Enem.