O Globo, n. 31504, 08/11/2019. País, p. 9

Caso Marielle: policia apreende sistema do condomínio na Barra
Vera Araújo
João Paulo Saconi


Policiais da Delegacia de Homicídios (DH) da Polícia Civil do Rio e peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli apreenderam na manhã de ontem o sistema de mídia da portaria do condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, onde morava o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa, um dos acusados pelas mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. De posse do equipamento, a polícia vai tentar identificar as pessoas que chegaram à portaria do condomínio no dia do assassinato e as vozes dos porteiros que trabalharam naquele dia.

Um dos porteiros do condomínio disse à Polícia Civil que liberou a entrada do ex-policial militar Élcio de Queiroz no Vivendas após ter sido supostamente autorizado “pela voz” do então deputado Jair Bolsonaro — ele também era morador do local. Isso teria ocorrido no dia 14 de março de 2018, horas antes do momento em que Marielle e Anderson foram assassinados. Élcio é suspeito de ter participado do crime junto com Lessa. Naquele dia, Bolsonaro estava na Câmara dos Deputados, em Brasília.

A apreensão dos equipamentos só foi possível depois que a Procuradoria-Geral da República informou oficialmente o arquivamento da consulta sobre a citação ao nome do presidente por um dos porteiros.

Na última terça-feira, o Jornal Nacional noticiou o teor do depoimento do porteiro e explicou que Bolsonaro estava em Brasília naquele momento. No dia seguinte, em entrevista coletiva na sede do Ministério Público do Rio (MP-RJ), a promotora Simone Sibilio afirmou que o porteiro “mentiu” à polícia em seu depoimento. Depois, disse que ainda seria esclarecido pela investigação se o porteiro “mentiu, se equivocou ou esqueceu”.

A convicção do MP de que o porteiro deu informações falsas à polícia baseou-se na análise da gravação de um diálogo de Lessa. Os critérios que basearam a análise, feita por peritos do MP, foram definidos pouco mais de duras horas antes da coletiva das promotoras. A perícia foi criticada por não analisar o sistema de gravação de conversas da guarita, mas apenas os áudios cedidos pelo síndico.

O Ministério Público do Rio informou que acompanha todos os atos de investigação relacionados ao caso, mas que as diligências tramitam sob sigilo. A promotoria também informou que as gravações entregues pelo síndico do condomínio seguiram para o setor de análise no dia 15 de outubro e que, portanto, a perícia do material não foi feita em apenas 2h30m.

A PF abriu inquérito para apurar se o porteiro mentiu em depoimento. Será investigado se houve obstrução de Justiça, falso testemunho e denunciação caluniosa contra Bolsonaro.