O Globo, n.31.586, 29/01/2020. País. p.06

PF vai investigar atuação de Wajngarten na Secom
Daniel Gullino 
Gustavo Maia 


 

O Ministério Público Federal (MPF) solicitou à Polícia Federal (PF) a abertura de inquérito para apurar suspeitas dos crimes de corrupção, peculato e advocacia administrativa envolvendo o chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República, Fábio Wajngarten.

Ontem, Wajngarten foi notificado pela Comissão de Ética Pública (CEP) da Presidência para prestar informações sobre os contratos mantidos por uma empresa, da qual ele é sócio, com emissoras de televisão e agências de publicidade que recebem verbas do governo federal geridas pela Secom. A comissão apura se a prática configurou conflito de interesses.

O pedido de investigação do MPF, revelado pelo jornal “Folha de S. Paulo” e confirmado pelo GLOBO, também apura as supostas irregularidades envolvendo o fato de Wajngarten manter 95% das cotas da FW Comunicação e Marketing após ter assumido a Secom, que paga publicidade a emissoras de TV e agências que têm contrato com a FW. O pedido partiu do procurador Frederick

Lustosa, da Procuradoria da República no Distrito Federal, com base em representações recebidas pelo órgão. O caso será conduzido sob sigilo.

Questionado ontem sobre o pedido do MPF, o presidente Jair Bolsonaro disse que o órgão dará “o devido despacho” caso existam indícios de irregularidades.

—Desde que tenha um indicativo para investigar, vai ser investigado. Até o momento, não vi nada de errado por parte do Fábio (Wajngarten) —disse Bolsonaro.

Em pronunciamento após o caso ser revelado, há duas semanas, Wajngarten afirmou que se afastou da gestão da empresa e nomeou um administrador antes de assumir o cargo no governo. Segundo ele, o processo foi feito a partir de orientações da Secretaria de Assuntos Jurídicos (SAJ) e da Comissão de Ética da Presidência.

—Não tenho nada a esconder, à época da minha nomeação foi orientado, foi ordenado, que eu saísse do quadro da gestão da FW Comunicação e Marketing, atitude esta imediatamente cumprida e vistoriada pela SAJ e pela Comissão de Ética —afirmou.

Ontem, na primeira reunião da Comissão de Ética da Presidência neste ano, o presidente do órgão, Paulo Henrique dos Santos Lucon, informou que Wajngarten já foi “cientificado” do prazo de dez dias para responder ao relator dos processos, conselheiro Gustavo do Vale Rocha.

As reuniões da comissão ocorrem mensalmente. A próxima está marcada para o dia 19. Lucon disse que o relator poderá requerer informações complementares, “se reputar necessário”, ou já deliberar pelo recebimento ou não das denúncias.

—Nós temos aqui uma regra de seguir o devido processo legal e o contraditório —declarou Lucon.