O Globo, n.31.586, 29/01/2020. País. p.06

Bolsonaro demite número 2 da Casa Civil por uso de avião da FAB
Naira Trindade 
Daniel Gullino 


 

O secretário-executivo da Casa Civil, José Vicente Santini, foi demitido publicamente do cargo ontem pelo presidente Jair Bolsonaro. Logo pela manhã, ao retornar de viagem à Índia, Bolsonaro se antecipou a perguntas dos jornalistas no Palácio da Alvorada, onde costuma falar com a imprensa, e anunciou a decisão, que não havia sido publicada em Diário Oficial da União até a noite de ontem.

No sábado, o presidente já havia dado uma bronca no funcionário ao descobrir que ele usou um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) para sair de Davos, na Suíça, e seguir para a Índia, juntando-se à comitiva presidencial em visita oficial ao país. Outros ministros haviam feito o mesmo deslocamento em voo comercial. A informação foi antecipada na coluna de Bela Megale, no site do GLOBO. Santini estava como interino do ministro Onyx Lorenzoni, que está de férias.

Ao justificar a demissão, Bolsonaro disse que a atitude de Santini “não é ilegal, mas é completamente imoral”.

—(Santini) Já está destituído da função de executivo do Onyx. Decido por mim. Vou conversar para ver quais outras medidas vão ser tomadas contra ele. É inadmissível o que aconteceu. Ponto final —declarou o presidente.

MUDANÇA DE VERSÃO

Um dia antes de Bolsonaro anunciar a exoneração, a Casa Civil havia defendido em nota a legalidade do uso da aeronave da FAB pelo secretário-executivo. Foram duas versões de comunicado. Na primeira, a pasta chegou a informar que Santini havia viajado “a trabalho e a pedido de

Bolsonaro” e que o próprio “havia autorizado o voo”. “Todos os voos são autorizados pelo próprio presidente da República”, dizia o texto.

Porém, questionada sobre o fato de que o presidente não autoriza uso de voos da FAB em Diário Oficial, a Casa Civil corrigiu a nota oficial e enviou nova versão dizendo que “a utilização das aeronaves da FAB seguem (sic) rígidos critérios, sempre observados por esta pasta”.

A demissão de Santini foi anunciada enquanto o então número 2 da Casa Civil retornava ao Brasil. A previsão é que chegue hoje no mesmo avião da FAB. O substituto no cargo será o atual secretário adjunto, Fernando Moura.

Irmão do vereador de Campinas Tenente Santini (PSD), cotado para concorrer à prefeitura da cidade com apoio de Bolsonaro, Santini foi promovido a secretário-executivo da Casa Civil em abril, no lugar de Abraham Weintraub, que virou ministro da Educação.

O ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles usou expediente semelhante ao de Santini em março. Segundo o colunista Lauro Jardim, o registro de voos da FAB aponta o uso de um voo oficial para o Quênia na data em que Salles — que segue no cargo — participou de assembleia ambiental da ONU no país.