O Globo, n. 31484, 19/10/2019. País, p. 14

Abdelmassih volta à prisão por decisão da Justiça



O ex-médico Roger Abdelmassih, de 76 anos, retornou à Penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo, após três anos cumprindo pena em casa. Ele teve a prisão domiciliar revogada após uma perícia apontar que o tratamento de sua doença cardíaca pode ser feito na própria prisão.

A decisão foi tomada pela juíza Andréa Barreira Brandão, da 3ª Vara de Execuções Criminais da Comarca de São Paulo. Abdelmassih estava em prisão domiciliar desde 2017, após um laudo atestar seu quadro de saúde. No entanto, um livro, publicado pelo ex-detento Acir Filló, indicou a existência de uma trama para fraudar resultados clínicos na penitenciária de Tremembé, onde Abdelmassih voltará a cumprir pena. Acusado de abusar sexualmente de pacientes, ele foi condenado a 181 anos de prisão.

A fraude, segundo Filló, era feita com o objetivo de obter na Justiça o direito à prisão domiciliar. Ele afirmou que o médico Carlos Hasegawa, delegado em Tremembé, teria administrado remédios para alterar artificialmente a pressão arterial de Abdelmassih. Após a publicação, o Ministério Público (MP) pediu para que o ex-médico fosse recolhido ao Hospital Penitenciário, em ambiente controlado, onde ficasse isolado até a realização da perícia médica.

Uma perícia apontou que, embora Abdelmassih tenha de fato uma doença cardíaca, o local onde ele cumpre a pena não deverá piorar essa condição.

“Difícil compreensão”

Após a decisão que levou Abdelmassih de volta à cadeia, a defesa dele afirmou que “a perícia oficial afastou, por completo, qualquer tipo fraude”. Segundo os advogados, a investigação confirmou que o ex-médico é “portador de doença grave, insuficiência cardíaca severa e insuficiência coronariana severa, com alto risco de morte”.

De acordo com a defesa, a decisão deveria ter considerado o quadro de saúde de Abdelmassih, com piora recente, e o fato de que a administração do presídio em Tremembé assumiu formalmente que não dispõe de condições para oferecer tratamento ao preso. Ainda segundo os advogados, a revogação da prisão domiciliar se mostrou “de difícil compreensão”, uma vez que o benefício tinha sido concedido por “razões eminentemente humanitárias”.

Preso desde 2014, Roger Abdelmassih era um profissional renomado na área de reprodução assistida. Em 2008, foi alvo de uma série de acusações de abuso sexual. Dois anos depois, foi condenado a 278 anos de prisão. Em razão da prescrição de alguns crimes, a pena foi reduzida a 181 anos.

Em 2011, o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) decidiu pela cassação do registro profissional de Abdelmassih.