O Globo, n. 31527, 01/12/2019. País, p. 8

Aposentada da vida política, Marta já pensa em voltar

Sérgio Roxo



Em agosto do ano passado, Marta Suplicy anunciou na última hora que não tentaria renovar o seu mandato de senadora, se desfiliou do MDB e prometeu abandonar a vida partidária. Em carta para justificar a decisão, dizia que o sistema político estava falido e que a relação de grande parte das siglas e de parlamentares com o Executivo se dava na base do “toma lá, dá cá, afrontando os padrões de dignidade e honradez”. Pouco menos de um ano depois, Marta admite rever a aposentadoria. Na semana passada, ela afirmou estar disposta a “fazer o que for necessário” para unir a centroesquerda na eleição para a prefeitura de São Paulo no ano que vem.

O necessário pode ser uma nova candidatura. Aos 74 anos, seria a quinta vez que ela entraria na disputa pelo cargo. Venceu apenas uma, em 2000, pelo PT. A ex-senadora coloca a sua mudança de posição na conta do governo do presidente Jair Bolsonaro. Alega que uma pessoa que luta pela democracia não pode ficar de fora diante de riscos provocados por “milícias partidárias” e “tentativa de aprovação do porte de armas” no Congresso. O detalhe é que o retorno de Marta à política pode passar pelo PT, que ela deixou em 2015 com o argumento de que se sentia indignada e constrangida pelos crimes atribuídos a integrantes da sigla. Alguns petistas levantam a possibilidade de Marta ser a vice de uma chapa encabeçada pelo ex-deputado Gabriel Chalita, que deixou o PDT e está sem legenda.

O ingresso de Chalita no PT depende de um aval do ex-presidente Lula para romper as resistências internas ao seu nome. Em 2016, ainda pelo PDT, ele foi vice na candidatura derrotada de Fernando Haddad à reeleição. Na dobradinha com Chalita, Marta poderia sera vice tanto pelo PT com opor outra legenda. Lula disse, em entrevista no dia 20, que se a ex-senadora quisesse voltar “da mesma forma que ela saiu, ela pede para entrar”.

Também a classificou como a melhor prefeita que São Paulo já teve. Além do PT, Marta tem tido conversas com políticos do PSB e do PDT. Segundo um aliado, a ex-senadora ainda não definiu o seu caminho, nem sabe se realmente tentará uma nova candidatura. Ela aceita ser vice e afirma estar em uma “situação privilegiada” por não almejar nenhum posto.

O certo, segundo esse interlocutor, é que a ex-senadora só ingressará numa chapa com força para chegar ao segundo turno. Caso se decida pelo PT, Marta enfrentará resistência de parte das lideranças da sigla. Os seus problemas dentro do partido começaram em 2011, quando o mesmo Lula, que agora a considera melhor prefeita da história da cidade, barrou sua candidatura em São Paulo em favor do então estreante em disputas eleitorais Fernando Haddad.