O Globo, n. 31484, 19/10/2019. País, p. 10

PSL castiga deputados ligados a Bolsonaro

Bruno Góes
Naiara Trindade


Depois de barrar a tentativa do deputado Eduardo Bolsonaro (SP) de assumir a liderança do PSL na Câmara, a ala ligada ao presidente da legenda, Luciano Bivar, deu início ontem a uma série de medidas para manter o controle do partido. A executiva do partido puniu cinco deputados aliados ao presidente Jair Bolsonaro com a suspensão das atividades partidárias. Isso significa que eles não poderão participar de qualquer atividade relacionada à sigla, o que inclui assinar listas para indicar o líder da bancada na Câmara. Assim, o grupo de Bivar pretende garantir o deputado Delegado Waldir (GO) no posto.

Outra medida adotada ontem foi aumentar o número de integrantes do diretório nacional, ampliando a maioria de apoio ao presidente Bivar. A cúpula do partido avalia ainda destituir do comando de diretórios estaduais quem for ligado ao grupo de Bolsonaro. Isso incluiria dois filhos do presidente, Eduardo, que controla o partido em São Paulo, e o senador Flávio, no Rio. Essa decisão chegou a prevalecer na reunião do diretório nacional ontem, e os deputados bivaristas Júnior Bozzella (SP) e Sargento Gurgel (RJ) seriam os substitutos. No Distrito Federal, a troca seria da bolsonarista Bia Kicis pelo vice-presidente do PSL, Antonio Rueda.

— Isso já foi decidido há dois, três dias, e deve ser oficializado até terça-feira. Não está assinado, mas é uma medida automática. Tira um e coloca outro — disse o deputado Coronel Tadeu (SP) ao deixar a reunião.

Uma ala do partido, porém, tenta convencer Bivar a desistir da iniciativa. O argumento é que mexer diretamente com os filhos do presidente da República seria um excesso que poderia fazer a crise escalar para consequências imprevisíveis. Embora tenha sido o postulante a tomar a liderança na Câmara de Delegado Waldir, Eduardo Bolsonaro não esteve entre os deputados punidos ontem. Os cinco parlamentares suspensos por terem atuado na linha de frente da articulação fracassada para trocar líder da bancada são Carla Zambelli (SP), Bibo Nunes (RS), Carlos Jordy (RJ), Filipe Barros (PR) e Alê Silva (MG). Delegado Waldir, líder do PSL na Câmara, afirmou que, além da suspensão interna, o PSL deve pedir ao Conselho de Ética da Câmara a abertura de um processo que pode culminar na cassação de mandato dos deputados.

Além dos cinco, a ideia é representar também contra Daniel Silveira (RJ), o deputado aliado de Bolsonaro que se infiltrou numa reunião da la ligada a Bivar e gravou e divulgou uma fala do Delegado Waldir chamando o presidente da República de “vagabundo”.

Nem todos os parlamentares da ala bivarista estão dispostos a “pegar leve” com os filhos do presidente. O senador Major Olímpio (SP) ironizou as polêmicas envolvendo Eduardo, Flávio e Carlos, o filho que é vereador no Rio e é filiado ao PSC, e não ao PSL.

— Em vez de ter uma embaixada para um, se a gente arrumasse três embaixadas e os três ficassem três anos fora do Brasil, o presidente ia avançar em muito. Ele ia ter sossego — disse o senador, a favor de destituir Eduardo e Flávio do comando partidário em São Paulo e no Rio.

— Há uma exigência dos parlamentares nos estados da total impossibilidade de se prosseguir. Um dos grandes problemas que geraram conflito do presidente com o partido, o que foi? Eduardo Bolsonaro. Há uma insatisfação dos parlamentares do Rio dizendo: nós não queremos mais o Flávio Bolsonaro. Também ontem, o diretório nacional teve sua composição aumentada de 101 para 153 integrantes. O crescimento, derivado de uma mudança no estatuto do partido promovida por Bivar, tem o objetivo de ampliar o apoio da cúpula da legenda no diretório.

“É ditadura”, diz punida

Os deputados suspensos reagiram à punição. Carla Zambelli chegou à reunião do diretório nacional com procuração para representar outros 13 deputados da ala ligada a Bolsonaro. Ela classificou como um ato típico de uma “ditadura” a suspensão dos parlamentares.

— Soube pela imprensa que estou suspensa. Querem me cassar? Dizem que minha assinatura não vale mais, não existe o que eles estão fazendo —afirmou. A deputada disse que pretende pedir a anulação da reunião que aumentou o número de integrantes do diretório nacional:

— Eles estão mudando o estatuto e mais uma vez concentrando poder nas mãos do Bivar.

Outro dos punidos, o deputado Carlos Jordy chamou a punição de “onduta arbitrária” e só reforça que o partido precisa de novo comando:

— É mais uma demonstração de perseguição política, de uma pessoa incompetente, sem poder de articulação e, além de tudo, autoritária. O delegado Waldir não quer ver seus desmandos serem questionados. Isso só mostra que o partido precisa mesmo trocar o comando. Não desistiremos até que o partido seja reformulado e esteja de acordo com os valores defendidos pelo presidente Jair Bolsonaro.

Pai do deputado Felipe Francischini (PR), que é do grupo ligado a Bivar, o deputado estadual no Paraná Fernando Francischini tenta conciliar um acordo que resulte numa saída para a crise. Uma alternativa proposta é que o presidente Jair Bolsonaro indique um aliado para a secretaria-geral do PSL como forma de diluir os poderes da Executiva Nacional da legenda hoje concentrados nas mãos de Bivar. Outra hipótese seria alguma negociação com cúpula do PSL para a saída dos 20 deputados bolsonaristas sem que eles percam o mandato.