O Estado de S. Paulo, n. 46923, 07/04/2022. Política, p. A11

Lula pede pressão sobre famílias de parlamentares; deputado mostra arma

Davi Medeiros 
Natália Santos 


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu, durante um evento da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que seus apoiadores mapeassem o endereço dos parlamentares para "incomodar a tranquilidade deles", pressionando-os com demandas. A declaração gerou forte repercussão entre deputados bolsonaristas e, pelo menos dois deles, chegaram a dizer que pegariam em armas de fogo contra o petista e seus apoiadores.

"Fazer ato público na frente do Congresso Nacional não move uma pestana de um deputado", disse Lula, na noite de segunda-feira. "Deputado tem casa. Eles moram em uma cidade, nessa cidade tem sindicalista (...) Se a gente mapeasse o endereço de cada deputado e fossem 50 pessoas até a casa dele, não é para xingar, mas para conversar com ele, conversar com a mulher dele, com o filho dele, incomodar a tranquilidade dele, eu acho que surte muito mais efeito."

Após a declaração, o deputado Junio Amaral (PL-MG), que é policial militar reformado, publicou um vídeo empunhando uma pistola. Ele afirma, ironicamente, que iria aguardar em casa a chegada da "turma" do petista. "Serão muito bem-vindos", disse ele.

A deputada Carla Zambelli (PL-SP) afirmou que, em sua casa, vigora a lei da "legítima defesa". "Meu lar é inviolável, minha família é sagrada. Então, digo uma coisa para vocês: na minha casa tem pistola." Dirigindo-se à mãe, que aparece no vídeo, a parlamentar completou: "Olha, mãe, se vier vagabundo aqui, a senhora está autorizada a pegar a pistola e meter chumbo". Carla disse que iria denunciar o ex-presidente por incitação ao crime.

A declaração de Lula gerou críticas contundentes também entre políticos não alinhados ao presidente Jair Bolsonaro .

Representação. Lula e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, não comentaram. O partido, porém, entrou com representação no Conselho de Ética da Câmara contra Junio Amaral na qual pede a abertura de processo disciplinar por quebra de decoro. Para a legenda, a reação foi "desproporcional, autoritária, odiosa". A ação atribui ao deputado crimes de ameaça, incitação ao crime e apologia de crime.

"(Amaral) Responde à fala do presidente Lula fazendo expressa ameaça, consistente em receber, tanto o presidente, quanto eventuais cidadãos (manifestantes), com uma arma de fogo totalmente carregada, a indicar que poderia matá-los ou lesioná-los", diz o texto.

Na avaliação do PT, a declaração do ex-presidente foi democrática e teve a "perspectiva de buscar, junto aos representantes populares, um canal de diálogo mais próximo e que permita, sem intermediários, apresentar demandas trabalhistas, sociais e políticas".

Em nota, Junio Amaral afirmou que seu vídeo foi uma resposta ao que considerou uma ameaça. "Apenas avisei que não submeterei a minha família a qualquer risco que algum dos terroristas queira nos colocar", diz o texto. 

Discussão

Para PT, parlamentar cometeu crimes; Em nota, Junio Amaral disse que apenas reagiu