O Globo, n.31.587, 30/01/2020. Economia. p.26

BNDES diz que ‘não há mais nada a esclarecer’ sobre operações
Manoel Ventura 

 

O presidente do BNDES, Gustavo Montezano, disse ontem que a auditoria para investigar contratos do banco coma J& F, controladora da JBS,f oi recomendada pelo auditor externo de balanços da instituição, a consultoria KPMG. Em apresentação no Ministério da Economia, Montezano disse que os dois aditivos foram sugeridos por técnicos do banco.

— Em setembro de 2017, o auditor das demonstrações financeiras do banco recomendou que o banco se protegesse através da contratação de investigação externa — disse Montezano.

— Nossa função é recuperar a reputação do banco. Não estamos aqui para acusar ninguém. Nossa função é dar total transparência para qualquer cidadão que o BNDES não tem mais nada a esconder.

Perguntado se há ainda uma “caixa-preta” no BNDES, ele respondeu:

— No momento atual, não há nada mais a esclarecer em relação a operações polêmicas do passado.

SEM AUDITORIA EM CURSO

O serviço foi feito pela consultoria Cleary Gottlieb Steen & Hamilton LLP, e pelos escritórios Protivi e Levy & Salomão. KPMG e Grant Thornton são os auditores independentes do BNDES. Foram eles que sugeriram a contratação da investigação. A KPMG e a Grant Thornton fizeram a validação da investigação.

Montezano afirmou que a auditoria, contratada entre 2017 e 2018, mirava oito operações do banco coma J& F em montante atualizado de R$ 20,1 bilhões. A auditoria não encontrou irregularidades.

—Não houve nada de ilegal. Agente construiu leis, normas, aparatos legais e jurídicos que tornaram legal esse esquema de corrupção. Conclusão é essa. E é legítimo que a população tenha essa dúvida, e é importante que o banco esclareça que não fez nada de ilegal— disse Montezano.

Segundo o presidente do BNDES, a auditoria custou R$ 42,7 milhões, somando os valores iniciais e os dois aditivos. Ovalo ré diferente do que vinha sendo divulgado, de R $48 milhões, por causa da diferença da cotação do dólar. O BNDES considera a cotação da moeda americana em cada momento da contratação.

O TCU deu 20 dias para o BNDES prestar esclarecimentos sobre a auditoria. Na segunda-feira, a cúpula do banco passou o dia em Brasília, em reuniões no TCU e no Ministério da Economia, para dar explicações. Anteontem, o presidente Jair Bolsonaro disse que pareceu “que alguém quis raspar o tacho” por causa dos aditivos.

O diretor de Compliance do BNDES, Claudemir Pereira, disse que novas investigações podem ser contratadas, desde que isso seja necessário, mas não há auditoria em curso atualmente:

— Precisamos avaliar se o custo de uma eventual futura contratação e os benefícios que ela traria. Não há investigação em curso atualmente.