O Globo, n.31.587, 30/01/2020. País. p.6

Plano de turismo ignora patrimônios nacionais
Camila Zarur

 

Dos 22 patrimônios culturais e naturais do Brasil reconhecidos pela Unesco, apenas dois são citados novo plano da Embratur para divulgar o Brasil no exterior este ano, revelado na edição de ontem do GLOBO. Embora mencione a Amazônia e Fernando de Noronha, o documento não cita, por exemplo, o Centro Histórico de Ouro Preto ou de Diamantina, em Minas Gerais, nem a Serra da Capivara, no Piauí. Das cinco regiões brasileiras, três não aparecem no plano elaborado pela Embratur:

Centro-Oeste, Sul e Sudeste. Além da menção a Fernando de Noronha — que deve servir de locação para um filme estrelado pela atriz Sharon Stone patrocinado pela Embratur —, o Nordeste aparece representado por Morro de São Paulo (na Bahia), Porto de Pedras (em Alagoas) e por Recife. Esses três destinos também são citados como possíveis locações cinematográficas.

Ficaram de fora ainda as principais festas típicas e populares do calendário nacional, como o carnaval, o tradicional festival do boibumbá e o Círio de Nazaré.

Para o ex-presidente e atual membro do conselho do do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) Angelo Oswaldo, a Embratur minimiza a importância dos patrimônios ao não incluí-los no plano.

— É sinal de omissão que mostra a desvalorização desse patrimônio como atrativo turístico. Do ponto de vista cultural, ele ficará à mercê de investimentos que não saberemos quando virão —explica.

ORÇAMENTO

Oswaldo argumenta ainda que, sem o turismo nessas áreas, a preservação dos patrimônios pode ser afetada:

— É fundamental que os bens sejam enfatizados no programa de turismo para que recebam recursos e garantam sua valoração —defende.

Transformada em agência pelo presidente Jair Bolsonaro em novembro, a Embratur teve um salto no orçamento e conta com uma previsão de cerca de R$ 500 milhões para promover o turismo ao país em 2020.

Entusiasta do plano recém divulgado, o empresário Edmar Bull, ex-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens, está otimista com as perspectivas do setor.

— Se a Embratur não virasse agência, não poderia investir no exterior, como fazem países como os Estados Unidos, Portugal e Espanha. Quem não é visto, não é lembrado —avalia Bull.

Segundo a agência, o Brasil recebeu no ano passado a visita de 6,6 milhões de estrangeiros, mesmo número de 2018, e a principal meta do plano é elevar este número.