O Globo, n. 31505, 09/11/2019. Economia, p. 25

‘Tenho de pensar no que é melhor para o acionista'
Entrevista: Roberto da Cunha Castello Branco


O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, recusa a ideia de que a estatal pode ter atrapalhado os dois leilões do pré-sal realizados esta semana, que terminaram com blocos sem ofertas. Só a Petrobras, associada com as estatais chinesas CNOOC e CNODC em alguns lances, arrematou áreas. Em entrevista ao GLOBO, ele atribuiu o desinteresse das estrangeiras às regras complexas do atual modelo regulatório, que obriga o regime de partilha em leilões do pré-sal e dá preferência à Petrobras.

A estatal não apresentou oferta para dois blocos para os quais havia manifestado interesse, surpreendendo o próprio governo. O executivo diz que a estratégia se concentrou apenas nos interesses da empresa. E negou que a parceria com as chinesas envolva o pagamento antecipado por elas dos bônus dos blocos de Búzios e Aram, na Bacia de Santos, nos quais se associaram. O dinheiro, segundo ele, sai do caixa da Petrobras.

O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, diz que estatal tem que mirar interesse dos acionistas e critica regras do leilão.

Opresidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, recusa a ideia de que a estatal pode ter atrapalhado os dois leilões do pré-sal realizados esta semana, que terminaram com blocos sem ofertas. Só a Petrobras, associada com as estatais chinesas CNOOC e CNODC em alguns lances, arrematou áreas. Em entrevista ao GLOBO, ele atribuiu o desinteresse das estrangeiras às regras complexas do atual modelo regulatório, que obriga o regime de partilha em leilões do pré-sale dá preferência à Petrobras. A estatal não apresentou oferta para dois blocos para os quais havia manifestado interesse, surpreendendo o próprio governo. O executivo diz que a estratégia se concentrou apenas nos interesses da empresa. E negou que a parceria com as chinesas envolva o pagamento antecipado por elas dos bônus dos blocos de Búzios e Aram, na Bacia de Santos, nos quais se associaram. O dinheiro, segundo ele, sai do caixa da Petrobras.

O que muda para a Petrobras com os blocos arrematados?

São áreas importantes. Búzios tem reservas altas, custo de extração baixo eé resistente apreços de petróleo muito baixos. Temos critérios rigorosos. Não são aprovados projetos que não resistam a um barril a US$ 45 ao longo do tempo. Conhecemos bem Búzios, onde já produzimos 600 mil barris por dia.

O Brasil precisa mudara regulação do setor de petróleo?

A regulação é extremamente complicada. Precisa ter um ambiente institucional prómercado, amigável ao investidor. É uma herança do passado. O Brasil tem uma estrutura reguladora muito complicada com vários regimes de exploração, como a concessão, usada em países desenvolvidos e emergentes. Tem acessão onerosa (contrato de capitalização da Petrobras em 2010 cuja revisão viabilizou o megaleilão de quarta-feira), que é uma jabuticaba. E tema partilha. Agora tivemos cessão onerosa compartilha. P orisso, o ministro (da Economia) Paulo Guedes disse que é um suco de jabuticaba. É extremamente complicado. O mercado gosta das coisas simples. As coisas que funcionam são as simples.

Essa complexidade dificultou atrair parceiros nos leilões?

Não tivemos dificuldade em atrair parceiros porque eles sabem que a Petrobras é quem mais conhece o pré-sal. A dificuldade que encontraram foi na complicação existente na regulação. Isso merece uma reflexão por par tedas autoridades. Vi declarações a respeito. Entendo que será corrigido.

Mas qual aspecto da regulação os investidores levaram em conta?

O Brasil tem conteúdo local. Tem que obedecer as regras. A empresa tem que ser livre para escolher os seus fornecedores e olhar o melhor interesse dos acionistas, não ser ditada por norma do governo. A partilha dá um excessivo poder a uma agência de governo. Fica difícil para um CEO explicar isso para seu Conselho e obter aprovação para investir aqui.

O senhor concorda coma ideia do governo de acabar com o direito de preferência da Petrobras no pré-sal?

Sou contra privilégios. A Petrobras não quer monopólio. Estamos trabalhando também para eliminar aposição dominante em refino e gás natural.

A Petrobras atrapalhou o desempenho do leilão ao manifestar interesse por algumas áreas e não fazer propostas pelos blocos?

Por lei, somos obrigados a manifestar interesse em áreas. Na 6ª Rodada (quinta-feira), manifestamos em algumas. Ao longo do tempo, decidimos não participar de duas. Foi uma decisão com muita reflexão e análise. Se alguém apresentasse proposta, não exerceríamos a preferência.

Mas atrapalhou?

Cada um é soberano para tomar decisões. Eu tenho de pensar no que é melhor para os acionistas da Petrobras. Se (outras empresas) não quiseram entrar, perderam boa oportunidade. Mas entendo as complicações que enfrentam. Oque está errado não é a Petrobras nem as empresas. É o modelo regulatório.

Como a companhia vai pagar os bônus? Os chineses vão arcar antecipadamente com o valor?

Não houve conversa dos chineses anteciparem pagamento à Petrobras. Aliás, vamos pré-pagar parte de uma dívida com o China Development Bank. São US$ 5 bilhões. Vamos tirar do caixa até o fim do ano. Se alguém vai dar dinheiro paraalguém somos nós. Nenhum chinês vai nos antecipar pagamento. Não houve essa conversa. A Petrobras vai continuar com sua estratégia, que é ser tratada co mouma empresa normal. Não precisamos desses recursos. Queremos eles como parceiros não como financiadores.

Então serão recursos próprios?

A Petrobras vai entrar com recursos da Petrobras.

O governo pretende chegara 7 milhões de barris diários em dez anos. A meta é viável?

Essa é uma estimativa do governo. Não sei como chegaram a esse número.

Qualé a meta da Petrobras?

O Plano de Negócios será anunciado no dia 28.

A Petrobras pretende entrar nos leilões de 2020?

É prematuro ainda. Depende de análise de oportunidade. Mas seguimos o princípio: capital escasso. Os projetos têm que ser escolhidos por critérios rigorosos de risco e retorno. Só aqueles mais meritórios serão escolhidos. Não queremos crescera produção de petróleo a todo custo. É crescer com qualidade, com ativos de classe mundial para aproveitar os recursos existentes. E a preços bons para que agente possa criar valor. E isso vai continuar, embora apreços menores. A demanda global vai continuar acrescer por 15 a 20 anos.