O Globo, n. 31482, 17/10/2019. Economia, p. 21

FMI: endividamento global sobe 61% em dez anos

Paola de Orte
Lucinda Pinto


O total da dívida global, pública e do setor privado não financeiro atingiu US$ 187,536 trilhões em 2018, o equivalente a 226,5% do PIB, segundo dados divulgados ontem pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Em dez anos, isso representa um crescimento de 61,2%. Desse total, US$ 68,717 trilhões são dívida pública, enquanto US$ 118,819 trilhões estão nas mãos do setor privado.

Somente o grupo dos países que integram o G-20 (grupo que reúne as principais economias do mundo) detinha, no fim de 2018, US$ 155,9 trilhões, ou 240,1% do PIB. Nesse caso, houve um avanço de 66,7%.

O maior crescimento aconteceu, no entanto, no volume de dívida de países emergentes que integram o G-20. São US$ 44,497 trilhões, um salto de 295%. Esse volume representa 139,5% do PIB do grupo. A dívida soberana soma US$ 11,811 trilhões, e a privada, US$ 32,686 trilhões.

Gasto elevado com juros

O FMI demonstrou preocupação com o crescimento das dívidas corporativas e seu potencial impacto na economia global. Segundo o diretor do Departamento de Mercado de Capitais e Monetário do Fundo, Tobias Adrian, em um cenário de crescimento econômico mais lento, esse tipo de vulnerabilidade representa um risco de médio prazo:

— As dívidas das firmas que são incapazes de cobrir seus gastos com juros com suas receitas, o que chamamos de dívida corporativa de risco, podem subir para US$ 19 trilhões em um cenário que tem quase ametade da severidade da crise financeira global (de 2009).

Segundo dados do FMI, em 2021 esses US$ 19 trilhões representariam quase 40% do total das dívidas corporativas em oito grandes economias (China, França, Alemanha, Itália, Japão, Espanha, Reino Unido e EUA) —acima dos níveis da crise.

Para o Fundo, taxas de juros muito baixas incentivamos investidores abuscarem retorno em ativos mais arriscados e menos líquidos. O FMI ressalta ainda a elevada vulnerabilidade em instituições financeiras não bancárias em 80% das economias com setores financeiros importantes.

— Isso é similar ao que vimos no auge da crise financeira global —disse Adrian.

Ele enfatizou, no entanto, que o setor bancário está mais seguro hoje do que em 2009 e que são as vulnerabilidades no setor não bancário e nas corporações que estão crescendo.

Alavancagem preocupa

Segundo Anna Ilyina, chefe da Divisão de Economias Emergentes, com os juros baixos, muitas empresas não financeiras frágeis continuam a acumular dívida:

— Noca sode uma desaceleração econômica, essas companhias podem ficar sob pressão e ter dificuldade par apagar suas dívidas, sendo obrigadas a alavancar. E, quando elas fazem alavancagem, cortam investimentos e empregos, e isso exacerba a recessão. *Especial para o Globo **Do Valor