O Globo, n. 31529, 03/12/2019. País, p. 7

Poder Judiciário é o que inspira maior confiança, diz estudo

Rayanderson Guerra


Entre os três Poderes, o Judiciário é o que tem a maior confiança da sociedade, segundo o Estudo da Imagem do Judiciário Brasileiro divulgado ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). A pesquisa mostra que mais da metade das pessoas ouvidas (entre advogados, defensores públicos e sociedade civil) diz confiar na Justiça (52%).

A Presidência da República registra 34% de confiança, enquanto o Congresso Nacional tem apenas 19%. Os dados revelam ainda que a maioria dos entrevistados vê uma relação de conflito entre os Poderes: 60% consideram que eles não são independentes e que, frequentemente, um interfere no outro.

O estudo — uma parceria da FGV com a Associação de Magistrados Brasileiros (AMB) e a Associação de Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (AMAERJ) — coordenado pelo cientista político Antonio Lavareda mostra ainda que Congresso, políticos e o próprio presidente da República são aqueles que mais interferem no Judiciário, de acordo com a percepção dos entrevistados. O estudo foi feito entre agosto do ano passado e novembro deste ano.

Ao avaliarem o Judiciário, 21% dos entrevistados consideram o sistema ótimo ou bom, enquanto 41% acham regular e 35%, ruim ou péssimo. O Legislativo é o poder com a pior avaliação no levantamento: 51% consideram ruim ou péssima a atuação dos parlamentares, enquanto apenas 10% avaliam como boa ou ótima. Já o Executivo é aprovado por apenas 16% das pessoas ouvidas, contra 46% que acham ruim ou péssima a atuação.

Apesar dos números positivos, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Marco Aurélio Bellizze, um dos coordenadores do estudo, diz que o Judiciário precisa ouvir mais a “clientela” para prestar um serviço cada vez melhor:

— Precisamos nos comunicar e dar noção da dificuldade que é conduzir a Justiça. Recursos limitados e demandas crescentes.

A confiança nas instituições ainda é considerada baixa. Para Lavareda, os dados mostram um pano de fundo que é global: o “desprestígio progressivo dos Poderes do Estado”.

— Crise econômica, percepção de crescimento de desigualdade, de corrupção desenfreada da elite política. Também estamos assistindo, mundo afora e no Brasil, uma crise de representação política — disse ele.

Comportamento nas redes

O estudo mediu ainda o comportamento das pessoas nas redes sociais quando o assunto é o Judiciário. O levantamento analisou cerca de 9 milhões de tuítes e 36 milhões de interações no Facebook em agosto deste ano. O Supremo Tribunal Federal (STF) concentrou mais da metade do engajamento das redes sociais sobre o Judiciário (56% das postagens).

Se a pesquisa mostra que o Judiciário é a instituição mais bem avaliada, nas redes sociais o STF acumula críticas. Das publicações analisadas, 73% foram menções críticas ao Supremo, contra apenas 5% positivas.

— O Judiciário precisa trabalhar a sua imagem para se contrapor a essa campanha e para se revelar — afirmou o presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros, Jayme de Oliveira.