O Globo, n. 31482, 17/10/2019. País, p. 7

Ex-assessor era próximo da família presidencial

Juliana Dal Paiva


Antes de denunciar o deputado estadual Gil Diniz (PSL-SP), conhecido como “Carteiro Reaça”, pela prática de “rachadinha” na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Alexandre Junqueira, cujo apelido é “Carioca de Suzano”, frequentava o círculo mais próximo da família Bolsonaro. Junqueira participou até da restrita festa do réveillon passado que o presidente Jair Bolsonaro promoveu na Granja do Torto, horas antes da posse.

Junqueira foi contratado como assessor de Gil Diniz e afirmou ao Ministério Público ter ouvido do próprio deputado que teria de devolver parte de seus vencimentos. Ele foi funcionário do gabinete do líder do PSL na Alesp entre março e agosto deste ano. Segundo ele, o deputado pediu que devolvesse R$ 5 mil do salário e lhe disse que o assessor só receberia gratificações se entregasse o valor. Diniz nega (leia a entrevista abaixo).

Desentendimento

Diniz e Junqueira teriam começado a se desentender em março. Ao todo, o ex-assessor só trabalhou por 14 dias no gabinete até ser afastado por não concordar com o esquema. No entanto, ele permaneceu nomeado, sem receber tarefas nem comparecer ao local de trabalho quando foi exonerado, em 31 de julho. Antes da briga, porém, acompanhava o deputado em todos os eventos políticos, e frequentava sua casa. Diniz e Junqueira chegaram a tirar férias juntos e passaram a virada no ano passado na festa da família Bolsonaro na Granja do Torto, na qual estavam cerca de 30 pessoas — um grupo restrito que incluiu somente a família e amigos mais próximos. Além de Bolsonaro, estavam a primeira-dama, Michelle, e seus filhos. Antes de ser eleito, Diniz foi assessor do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Junqueira posou para fotos com Diniz, Eduardo e Flávio durante a festa. Também foi convida dopara aposse presidencial e postou imagens de seu convite para a recepção de chefes de estado no Itamaraty. Questionado se avisou Eduardo Bolsonaro sobre o esquema que ele acusa Gil Diniz de comandar, Junqueira disse que não gostaria de citá-lo.

— Acho que ele não tem nada a ver. Existe algo que eles falam, tudo que o sistema não combate, ele absorve. Isso vai de pessoa para pessoa —disse ao Globo.

Na Alesp, o salário bruto de Junqueira era de R$ 12 mil, além de R$ 999 de vale-alimentação. Segundo o ex-funcionário, Gil Diniz exigia que as gratificações especiais de desempenho, pagas a alguns assessores, fossem devolvidas, além de parte do salário. Junqueira diz que as gratificações, no valor de cerca de R$ 5 mil, são pagas em uma espécie de rodízio entre funcionários e que não as recebeu porque não aceitaria devolver os valores.

Segundo Junqueira, no começo, o deputado teria pedido apenas uma contribuição voluntária para caixa de campanha. Depois, a devolução das gratificações. Ao final, passou a pedir R$ 5 mil do salário. Ele conta que decidiu denunciar porque “esses caras só pensam em roubar”:

— Decidi denunciar porque não foi para isso que eu lutei.