O Globo, n. 31506, 10/11/2019. País, p. 13
Prisões de nigerianos indicam rota para África
Rayanderson Guerra
Os dados de apreensões de drogas e prisões por tráfico em aeroportos brasileiras retratam um cenário conhecido pelas autoridades policiais. Ao longo do tempo, as organizações criminosas diversificaram o leque de substâncias ilícitas comercializadas e fortaleceram as rotas do tráfico entre países sul-americanos e africanos.
Desde 2013, a Polícia Federal reúne dados sobre a nacionalidade dos presos por tráfico nos aeródromos brasileiros — o que inclui helipontos e aeroportos. De janeiro de 2013 a setembro deste ano, a PF prendeu 2.938 pessoas. A maior parte é de brasileiros (46,6%), seguido por nigerianos (10,5%), sul-africanos (5,4%), bolivianos (3,7%) e venezuelanos (3,4%).
Segundo PF, a nacionalidade dos presos não pode indicar com precisão o destino das drogas, uma vez que os transportadores compram passagens de forma isolada, o que dificulta a identificação de onde ela será comercializada.
“Ainda, podem variar as modalidades de transporte, podendo, a partir do destino aéreo final, por exemplo, transportar a droga ao destinatário por via terrestre ou marítima”, informou a PF.
Dados do Relatório Mundial sobre Drogas 2019, do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), mostram que o Brasil é uma das principais rotas da cocaína vinda da Bolívia e da Colômbia para África e Ásia, o que corrobora as estatísticas de presos por nacionalidade da PF.
— Em se tratando de América do Sul, a cocaína é a droga mais rentável. Grande quantidade da droga entra no Brasil pela fronteira Amazônica e é distribuída dentro do país e enviada para outros continentes. Por ser de fácil acomodação, é mais fácil traficar. Por isso, ainda é a droga mais traficada do mundo — explica Nivio Nascimento, coordenador da Unidade de Estado de Direito do UNODC.
Drogas sintéticas
No início da década, a apreensão de drogas sintéticas em aeroportos ainda era incipiente. Em 2009, foram apreendidos 24.147 mil comprimidos de ecstasy. Oito anos depois, em 2017, a PF reteve 473.883 mil comprimidos da droga. Em dez anos, foram dois milhões.
Outras substâncias também passaram a ser encontradas com as “mulas” pelos agentes da Polícia Federal. A cocaína passou a dividir espaço com o ecstasy, LSD, metanfetamina, anfetamina e variações mais rentáveis da maconha, como skunk e haxixe.
Jungmann explica que as facções criminosas, além de dominarem a produção , comercialização e distribuição de drogas como a cocaína e a maconha, mais voltada para o consumo interno, também buscam alternativas para ampliar o “caixa” das organizações.
— A apreensão de maconha neste cenário não é representativa pelo valor de comércio da droga e da necessidade de espaço para o transporte. As drogas sintéticas crescem ano a ano pelo valor e pelo fácil armazenamento — disse o ex-ministro.
Segundo a PF, a maior parte da maconha traficada no país é para consumo interno. O órgão diz que há um aumento nas apreensões na região Sul “com aparente destino ao Uruguai”.