Correio Braziliense, n. 21389, 08/10/2021. Política, p. 4 
 
Ex-estagiária depõe na PF
 
Luana Patriolino 
Raphael Felice 
 
 
A ex-estagiária do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), apontada como informante do blogueiro Allan dos Santos, prestou depoimento na Superintendência da Polícia Federal, na tarde de ontem. Tatiana Bressan, 45 anos, também foi alvo de busca e apreensão da PF. Os policiais vasculharam o endereço dela, no Lago Norte. 

A Polícia Federal coletou mensagens, obtidas por meio de quebra de sigilo telefônico, que constam no relatório da Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado do órgão. As conversas mostram que Tatiana se colocou à disposição do bolsonarista para vazar informações de dentro do gabinete de Lewandowski. 

Tatiana Garcia Bressan estagiou de 19 de julho de 2017 a 20 de janeiro de 2019, antes da abertura dos inquéritos contra Allan dos Santos, em março daquele ano. O blogueiro é investigado pelo STF em dois inquéritos: um para apurar disseminação de fake news, e outro para identificar quem financia essas ações e os atos contra o Supremo e outras instituições. 

Na primeira troca de mensagens, Tatiana entra em contato com Allan, demonstrando interesse em trabalhar na equipe da deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF), e diz que está no gabinete de Lewandowski. Nos diálogos, a estagiária relata ter dificuldade em trabalhar com o ministro, mas diz que está "lá para aprender". A informação, segundo o relatório da PF, "naturalmente desperta o interesse de Allan", que pede a colaboração da estudante. "Fique como nossa informante lá", diz o blogueiro. Ela responde prontamente: "Será uma honra". 

Pelas redes sociais, Allan Santos disse que vai denunciar o ministro Alexandre de Moraes na Organização Internacional de Jornalistas e a Federação Internacional de Jornalistas. "Violar o direito ao sigilo de fonte é abominável, independente do espectro político. Isso é inaceitável", escreveu no Twitter. 

Parecer contra deputado 
A Procuradoria-Geral da República manifestou-se favorável à punição do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), em parecer encaminhado ao Supremo Tribunal Federal. Em fevereiro, o parlamentar foi preso em flagrante após divulgar na internet um vídeo defendendo a volta do AI-5 — instrumento mais duro da ditadura militar — e a destituição dos ministros do Supremo, o que é inconstitucional. O crime é inafiançável. A prisão foi substituída por domiciliar com monitoramento por tornozeleira eletrônica. 

"O direito à liberdade de expressão é restringível, como tantos outros, e só pode ser reconhecido como absoluto 'em sentido fraco ou presuntivo', isto é, quando considerações conflitantes mais urgentes não estiverem presentes", cita o parecer assinado pelo vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros. "Na internet, declarações violentas como as do denunciado inspiram ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral, bem como às instituições, como por exemplo os havidos em 13 de junho de 2020 e, mais recentemente, os verificados nos dias que antecederam o último feriado da independência", complementa o documento. 

Silveira foi indiciado pela PGR por três crimes: usar de violência ou grave ameaça, com pena de 1 a 4 anos de prisão; tentativa de impedir, com uso de violência ou grave ameaça, o livre exercício de qualquer dos Poderes da União ou dos Estados, com pena: de 2 a 6 anos de cadeia; incitação à prática de crimes previstos na Lei de Segurança Nacional (LSN), com pena de 1 a 4 anos de detenção.