Correio Braziliense, n. 21388, 07/10/2021. Política, p. 4

Sem convencer sobre a Prevent

Raphael Felice
Cristiane Noberto


Em depoimento à CPI da Covid, ontem, o presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Paulo Roberto Rebello, disse que a autarquia só tomou conhecimento das irregularidades cometidas pela Prevent Senior após as investigações realizadas pela própria comissão de inquérito. Apesar de não ter convencido os senadores de que as experiências que o plano de saúde fazia com seus pacientes com a aplicação de remédios sem eficácia contra o novo coronavírus — e que os maus resultados levavam à fraude em prontuários médicos e certidões de óbito —, tentou esquivar-se afirmando que foge ao escopo da agência a vigilância sobre o que os médicos dos planos de saúde prescrevem às pessoas que atendem.

“Vossa senhoria deve ter, dentro de sua estrutura, uma assessoria de imprensa muito boa. Não me convence que só tenha tomado conhecimento depois da CPI, porque blogs e jornais já denunciavam a Prevent Senior desde março”, rebateu o senador Otto Alencar (PSD-BA), que presidia interinamente a comissão.

Arquivamento

Rabello justificou afirmando que as denúncias de que a operadora promoveria o uso de medicamentos sem a eficácia comprovada como principal medida para combater a covid -19 já havia sido investigada pela ANS em abril, mas foram arquivadas. “Nós solicitamos informações da operadora e o que eles fizeram? Eles apresentaram declarações dos médicos, e também dos pacientes, informando primeiro que eles concordavam com receber esses medicamentos, e os médicos informaram que tinham autonomia e tinham liberdade para prescrever”, explicou.

As primeiras denúncias contra a Prevent e a utilização do “tratamento precoce” nos pacientes foi trazida à tona pela primeira vez pelo ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta — que dias depois foi demitido. Além das reportagens alertando para as irregularidades cometidas pelo plano, uma denúncia formal foi apresentada à ANS pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), no ano passado.

“Era para ter feito isso (investigado) muito antes. Mas isso vai permitir que acabe com aquela bagunça que está acontecendo. A Prevent Senior não tem problema de ordem econômico-financeira. Ela lucrou, do ano passado para cá, mais de R$ 400 milhões. Ninguém venha dizer que a gente vai prejudicar os usuários. Pelo contrário: o que estamos fazendo é lutar para que o usuário tenha um tratamento digno e não seja cobaia”, disse o senador Humberto Costa (PT-PE).

“Uma vez havendo qualquer tipo de pressão da operadora (pela prescrição de medicamentos que possam comprometer a saúde dos pacientes), aí, sim, cabe intervenção da agência, o que já fizemos após relatos aqui dessa CPI. A operadora já foi autuada, ela se encontra na condição de investigada e tem dois autos de infração lavrados justamente por causa dessas ações que o senhor acabou de relatar”, explicou Rebello.

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