O Globo, n. 31537, 11/12/2019. Mundo, p. 26

‘Brasil e Argentina têm de se auxiliar’, diz Mourão

Janaína Figueiredo
Daniel Gullino


Em Buenos Aires para aposse do presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, o vice-presidente Hamilton Mourão comentou a decisão de última hora do presidente Jair Bolsonaro de enviá-lo para representá-lo na cerimônia. Para Mourão, Brasil e Argentina devem se ajudar mutuamente devido à importância da relação entre os dois países.

— A decisão é do presidente. Óbvio que o presidente deve ter considerado que a Argentina éon osso terceiro parceiro comercial — disse Mourão ao GLOBO. — Muitas das coisas que nós tivemos neste ano no Brasil, de não termos atingido determinados níveis que queríamos em termos de crescimento, são fruto da crise por que a Argentina passa. São dois países que têm que se auxiliar mutuamente. É óbvio que o gesto político do presidente é enviar o vice-presidente para representá-lo nesta cerimônia.

O vice-presidente disse ainda que os chanceleres do Brasil edono vogo verno argentino deverão se reunir“no devido momento ”, eque ainda não há previsão para um encontro entre Fernández e Bolsonaro. Segundo O GLOBO apurou, o chanceler de Fernández, Felipe Solá, chegou a propor um encontro com Mourão na Embaixada do Brasil ontem de manhã, ainda antes da posse, mas ele acabou não ocorrendo. Segundo o vice-presidente, o papel de sua visita é “representar o governo brasileiro e, em particular, o governo Bolsonaro”.

‘Não queremos brigar’

A Argentina é terceiro maior parceiro comercial do Brasil, depois de China e Estados Unidos, e o maior comprador de produtos industriais brasileiros, embora o comércio bilateral esteja sofrendo com a desaceleração do crescimento nos dois países.

Ainda ontem, na saída do Palácio do Alvorada, Bolsonaro negou que tenha recuado ao decidir enviar Mourão para a posse de Fernández. De acordo com ele, “a política tem imprevisto a todo momento”.

— Vocês falam em recuo o tempo todo, como se o governo desse cabeçada por aí. O recuo... Às vezes você toma uma decisão antes de acontecer, né. Você vê técnico de futebol, muitas vezes... O cara está ali para entrar em campo, o cara se machuca. Ele recuou? Não é que errou, aconteceu um imprevisto. E, na política, tem imprevisto a todo momento.

O presidente disse que não quer“brigar” coma Argentina eque torce para que o governo de Fernández dê certo, mas ressaltou acreditar que ele terá dificuldades.

— Não queremos brigar com ninguém, queremos fazer comércio com o mundo todo. Não queremos brigar coma Argentina. Você pode ver. A Argentina também polarizou lá. Parecido aqui no Brasil. O partido do [presidente Mauricio] Macri fez uma bancada grande. Vão ter problemas para impor a sua política, no caso o Fernández. Estou torcendo para que a Argentina dê certo. Se bem que os números dizem que vão termais dificuldade do que nós.

A viagem de Mourão foi confirmada só na segunda feira, após uma série de idas e vindas do governo brasileiro sobre enviar ou não um representante à posse. Bolsonaro só anunciou que enviaria Mourão após pedidos do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e de outras autoridades.

— O presidente toma a decisão dele de acordo com que ele julga melhor. Não mudou nada porque eu estou aqui — disse Mourão.

Vizinhos na posse

Além de Mourão, estavam na posse os presidentes do Paraguai, Mario Abdo — que interveio para que Bolsonaro enviasse um representante — e do Uruguai, Tabaré Vázquez. O presidente uruguaio recém eleito, Luis Lacalle Pou, e o ex presidente José Mujica também compareceram. Ao venezuelano Nicolás Maduro foi sugerido não ir. Fernández tem questionado um regime que considera autoritário e responsável por violações dos direitos humanos. Já o dirigente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, chegou na última segunda-feira a Buenos Aires.

O presidente do Chile, Sebastián Piñera, confirmara presença, mas não pôde viajar em razão do desaparecimento de um avião militar chileno.