O Globo, n. 31508, 12/11/2019. País, p. 5

Bolsonaro faz reunião para discutir saída do PSL
Naira Trindade

Bruno Góes 


O presidente Jair Bolsonaro convidou deputados do PSL a participarem de uma reunião na tarde de hoje, no Palácio do Planalto, para informar que deverá sair da legenda. No encontro, o presidente deve anunciar também a estratégia para criação de uma nova sigla.

O GLOBO apurou que o presidente nacional do PSL, Luciano Bivar, foi informado de que Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro (RJ) assinaram a desfiliação na quarta-feira da semana passada, mas ainda não entregaram o documento ao partido.

Bolsonaro e Flávio podem ficar sem partido até que o grupo bolsonarista decida se vai se filiar a outra legenda, incorporar ou até mesmo trabalhar pela criação de um partido. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSLSP) não pode se desfiliar porque corre o risco de perder o mandato.

Inspiração na arena

Ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Admar Gonzaga encabeça os trabalhos ao lado da advogada Karina Kufa para tornar viável a criação de uma legenda para o presidente e os 20 parlamentares que já sinalizaram sair do PSL com ele.

Segundo a colunista Bela Megale, a campanha para a criação da nova sigla pode ser lançada ainda nesta semana, com um site e um aplicativo. Ainda de acordo com a colunista, caso os aliados de Bolsonaro não consigam levar o fundo eleitoral do PSL para o novo partido, a ideia é adotar um modelo similar ao do partido Novo, com cobrança de mensalidades, além de fazer vaquinhas online, o chamado crowdfunding.

A ideia é que o presidente use sua rede de apoio na militância bolsonarista para recolher 500 mil assinaturas e dar início ao processo de criação no TSE.

Um dos convidados, o deputado federal Bibo Nunes (RS) afirmou que vai aproveitar o encontro para manifestar também seu interesse em deixar o PSL, quando houver uma janela legal para saída. Ele não pode deixar a legenda neste momento sob pena de perder o mandato.

— É uma reunião para falarmos do momento político, e o Bolsonaro anunciar a desfiliação dele do PSL. Assim, como eu vou anunciar que de fato já estou fora do PSL e quero que acelerem minha expulsão — disse Bibo Nunes.

Na Câmara, o filho do presidente e líder do PSL, Eduardo Bolsonaro (SP), disseque a maioria deve seguir o presidente da República. No seu caso, Eduardo disse que iria “até a lua” com o pai:

— Na reunião no Palácio do Planalto, junto com a maioria dos deputados do PSL, ressalvado uma meia dúzia que tem entrado em conflito frontal com o presidente, a gente vai decidir a questão partidária. Se for um novo partido, se formos migrar para um partido já existente, ou mesmo quais deputados estão dispostos a fazer isso, a gente vai decidir amanhã (hoje) nessa reunião. É um momento-chave para os deputados que estão no PSL.

No domingo, o colunista Lauro Jardim revelou que o nome preferido de Bolsonaro para a nova legenda é Aliança. O nome, aliás, remete, não se sabe se propositalmente, à extinta Aliança Renovadora Nacional, Arena, o partido de sustentação da ditadura.

Advogados do presidente acreditam que a criação de uma sigla passou a entusiasmar Bolsonaro depois de ele ouvir que, se mais da metade dos deputados do PSL migrarem para a nova legenda, há chance de levarem consigo parte do fundo partidário de R$ 110 milhões ao ano.