O Estado de S. Paulo, n. 46917, 01/04/2022. Política, p. A10

União Brasil condicionou filiação de Moro a recuo de candidatura ao Planalto

Luiz Vassallo 
Lauriberto Pompeu 


A condição de que o ex-juiz Sérgio Moro abrisse mão do plano de lançar uma candidatura presidencial foi determinante para que o União Brasil aceitasse sua filiação. Em nota pública divulgada ontem, momentos antes do comunicado em que Moro anunciou a saída do Podemos e a troca de legenda, o secretário-geral do União Brasil, ACM Neto, e outros seis integrantes do partido – todos oriundos do antigo DEM – rechaçaram a possibilidade de Moro disputar o Palácio do Planalto. O ex-ministro deverá concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados.

O texto é assinado pelo primeiro-secretário do partido, deputado Efraim Filho, pelo ex-senador Agripino Maia, pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado (vice-presidente), pela deputada Professora Dorinha, pelo ex-deputado Mendonça Filho e pelo prefeito de Salvador, Bruno Reis.

Moro chegou a ser apresentado como pré-candidato à Presidência quando se filiou ao Podemos, em novembro passado, mas enfrentava resistências no partido, sobretudo dos deputados, refratários a ceder parte do fundo eleitoral para a campanha ao Planalto. O ex-ministro da Justiça aparecia em terceiro lugar na disputa presidencial, com cerca de 8% das intenções de votos.

Ontem, ao anunciar sua filiação ao União Brasil, Moro afirmou que abre mão, “neste momento”, da pré-candidatura à Presidência. Ao trocar de partido, ele também mudou o domicílio eleitoral, do Paraná para São Paulo. “Serei um soldado da democracia para recuperar o sonho de um Brasil melhor”, afirmou, em nota.

Moro disse que o Brasil “precisa de uma alternativa que livre o País dos extremos, da instabilidade e da radicalização”.

“Por isso, aceitei o convite do presidente do União Brasil, Luciano Bivar, para me filiar ao partido e, assim, facilitar as negociações das forças políticas de centro democrático em busca de uma candidatura presidencial única”, declarou. “A troca de legenda foi comunicada à direção do Podemos, a quem agradeço todo o apoio. Para ingressar no novo partido, abro mão, neste momento, da pré-candidatura presidencial”.

‘Surpresa’. A presidente do Podemos, Renata Abreu, no entanto, afirmou que a legenda foi informada pela imprensa sobre a troca de partido. “Para a surpresa de todos, tanto a Executiva Nacional quanto os parlamentares souberam via imprensa da nova filiação de Moro, sem sequer uma comunicação interna do ex-presidenciável”, diz a nota assinada pela deputada. O Estadão apurou que Moro falou ontem, por volta das 8h, com o senador Alvaro Dias (Podemos-PR), mas não citou mudança de partido.

O anúncio foi feito à tarde, após longa reunião com representantes do União Brasil em um hotel, em São Paulo. No início da tarde, ainda durante o encontro, o deputado Alexandre Leite (SP) se antecipou ao ex-juiz e publicou nota anunciando sua filiação.

A chegada de Moro ao União Brasil foi alinhada com o presidente da legenda, Luciano Bivar, da ala oriunda do PSL. Os dois jantaram juntos na segunda-feira e, na noite de anteontem, Bivar validou a ficha de filiação de Moro. Outro entusiasta do ex-juiz no partido é o também deputado Junior Bozzella (SP), também ex-PSL e aliado de Bivar.

Na nota divulgada pouco antes do anúncio do ex-juiz, integrantes da ala ligada a ACM Neto afirmam que entendem que Moro pode “contribuir muito para o debate político nacional”. “Entretanto, deixamos claro que seu eventual ingresso ao União Brasil não pode se dar na condição de pré-candidato à Presidência.”

“Tanto a Executiva Nacional quanto os parlamentares souberam via imprensa da nova filiação de Moro, sem sequer uma comunicação interna.”

Renata Abreu

Presidente do Podemos, em nota