Correio Braziliense, n. 21386, 05/10/2021. Economia, p. 7

Guedes avalia fundo para combustível

Raphael Felice


O governo federal continua quebrando a cabeça para encontrar uma forma de segurar os altos preços dos combustíveis. Ontem, em evento do Tribunal de Contas da União (TCU), o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que discute a criação de um fundo de estabilização dos valores de comercialização desses produtos. A ideia é utilizar ações de empresas estatais para essa finalidade.

"Podemos integralizar esse fundo de estabilização com ações da PPSA (Pré-Sal Petróleo S.A.), com ações que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tenha da Petrobras", disse Guedes. O comentário foi feito enquanto o ministro fazia questionamentos sobre o teto de gastos adotado no Brasil. Para Guedes, a medida de restrição impede que o país consiga integralizar o dinheiro do fundo.

"Nós definimos teto de um jeito equivocado, no qual o governo tem que gerar superavit, gastar espaço de teto para comprar reservas que ele já tem", explicou.

A ideia de um fundo de estabilização já havia surgido em 2018, quando Henrique Meirelles era ministro da Fazenda, durante o governo de Michel Temer.

Os números mostram que a conta não é tão simples como Paulo Guedes fez parecer. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), os brasileiros consumiram 131,7 bilhões de litros de combustível no ano passado, o menor patamar desde 2012. Com a volta do trabalho e das atividades econômicas, o total deve ser bem maior neste ano.

O professor do Instituto Brasileiro de Mercados e Capitais (Ibmec) William Baghdassarian explicou que, apesar da "boa intenção", a ideia de Guedes pode não funcionar na prática.

"Só de gasolina foram consumidos quase 36 bilhões de litros (35,8 bilhões, segundo a ANP), e se o governo fosse subsidiar, por exemplo, R$ 0,50 por litro, não aliviaria tanto no bolso do consumidor, pois o preço da gasolina continuaria muito alto e o governo teria um gasto de R$ 18 bilhões, o que seria uma boa parte do Auxílio Brasil que o Planalto tanto quer viabilizar", comparou.

Outro problema, segundo Baghdassarian, é que o governo faria uma distribuição de renda às avessas. "Se o governo usasse esses R$ 18 bilhões para subsidiar o combustível, deixaria de colocar esse dinheiro nos mais pobres e daria para camadas mais ricas ou para a classe média, que têm acesso ao combustível", explicou.