O Globo, n. 31477, 12/10/2019. País, p. 10

Contra lavagem de dinheiro, PF mira Collor



Agentes da Polícia Federal cumpriram ontem 16 mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao senador Fernando Collor (PROS-AL). O ex-presidente é investigado em suposto esquema de lavagem de dinheiro por meio de compra de imóveis em leilões públicos. Os mandados foram cumpridos em Maceió e em Curitiba com a autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin. As investigações da operação, batizada de Arremate, tiveram o objetivo de identificar e comprovar o suposto envolvimento de Collor como responsável por arrematar imóveis em leilões públicos ocorridos nos anos de 2010, 2011, 2012 e 2016, e assim ocultar recursos de origem ilícita, bem como viabilizar a ocultação patrimonial dos bens e convertêlos em ativos lícitos. Collor é investigado por participar dos leilões por meio de um “laranja” e assim ocultar que era o beneficiário final das operações. Os valores sob investigação somam aproximadamente R$ 6 milhões, sem as correções. Além de lavagem, os envolvidos são acusados de corrupção, desvio de dinheiro público (peculato), falsificações e organização criminosa. Participaram da operação 70 policiais federais.

Em uma rede social, Fernando Collor se disse “indignado” com a operação porque, segundo ele, há uma tentativa de envolvê-lo em um assunto que não tem conhecimento ou participação. “Trago a consciência tranquila e a certeza de que, mais uma vez, ficará comprovada a minha inocência”, postou o senador. Em agosto deste ano, a então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu o arquivamento de inquérito aberto com base na delação da Odebrecht para investigar Collor. Dodge contrariou em parte o relatório final da Polícia Federal. O delegado Orlando Cavalcanti Neves Neto afirmou no documento haver elementos para concluir que Collor cometeu o crime de corrupção passiva.

Valores que estão sob investigação somam aproximadamente R$ 6 milhões

BR distribuidora

Já em setembro, Fachin arquivou o inquérito que apurava se o senador cometeu crime de peculato. O ministro considerou que houve prescrição, quando o tempo máximo para punição pela irregularidade foi atingido. Com o arquivamento, Collor seguiu réu em uma ação penal e é investigado em mais um inquérito no âmbito da Lava-Jato.

O senador do PROS chegou a responder a sete procedimentos no STF — três foram arquivados e outros dois, anexados à ação penal na qual ele é réu.

Em maio, a PGR acusou o parlamentar de atuar para que a BR Distribuidora firmasse contratos com a empresa Laginha Agro Industrial, de propriedade do também alagoano João Lyra, com quem Collor mantém relações políticas, de amizade e familiares.