Correio Braziliense, n. 21385, 04/10/2021. Política, p. 5

Hora de a CPI dizer a que veio

Cristiane Noberto
Tainá Andrade


Com a votação do relatório marcada para o dia 20, a CPI da Covid entra nas suas semanas finais. Carlos Alberto Sá, sócio da VTCLog, está convocado para depor amanhã. Na quarta-feira, os senadores devem ouvir um dos médicos que denunciou a Prevent Senior. Na quinta- feira, ainda para tratar da questão da Prevent Senior, a CPI deve ouvir um representante da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), aponta a necessidade em afunilar as investigações. “Estamos na reta final, por isso temos que compatibilizar nesse momento o avanço da investigação, o acesso a documentos e informações. Novos depoimentos também serão coletados para contribuir ao desenho do relator. Além disso, as informações fornecidas por Bruna Morato, nos obrigam a tomar providências com relação à investigação. Todas serão priorizadas. Esse assunto a cada dia obriga que nós ouçamos mais pessoas”, destacou.

Apesar dos diversos pontos que ainda merecem ser esclarecidos, a maioria dos senadores da CPI acredita que o trabalho do colegiado já durou tempo suficiente. Os governistas, por exemplo, afiram que a comissão perdeu o foco e transformou-se em um “circo” por não ter direcionado nenhuma linha de investigação a estados e municípios — apesar de não ser essa a atribuição do Senado Federal.

Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI, acredita que os trabalhos da CPI ainda são relevantes. E citou como exemplo os depoimentos da semana passada. “O depoimento de Luciano Hang foi o pior da CPI. O de Bruna Morato (advogada dos médicos que acusam a Prevent Senior), o melhor. Digo isso do ponto de vista da investigação, que foi importante, porque ele [o depoimento] admitiu a responsabilidade em muita coisa. Agora, do ponto de vista do espetáculo que tivemos que nos confrontar, foi muito ruim”, lamentou.

Fora do circuito da CPI, analistas ouvidos pelo Correio avaliam erros e acertos do colegiado. Pedro Pitanga, analista de risco político da Dharma Politics, acredita que a CPI falhou ao receber Luciano Hang. Segundo ele, os senadores não estavam preparados para lidar com o empresário, personagem importante da ala mais ideológica do bolsonarismo. “Ao que me parece, houve um certo despreparo dos senadores em estar com aquela pessoa um pouco mais caricata [Hang]. O pior é que não houve grandes avanços. Agora, devemos observar como o senador Renan Calheiros irá abordar o relatório final com a participação de Luciano Hang. Além disso, também avaliaremos como isso poderá trazer algum tipo de implicação tanto para o empresário quanto para aqueles que são do governo”, explicou.

Na avaliação do cientista político e sócio da Hold Assessoria André César, de um modo geral, a CPI conseguiu trazer revelações importantes, ao expor figuras envolvidas com a realidade da pandemia no Brasil. Contudo, errou em alguns momento. “Não tinha que ter levado o Luciano Hang. A CPI já está no final, e é um tipo de depoimento que não tem o que agregar e só expõe toda a investigação em curso. Não tinham também que ter convocado a ex-esposa de Bolsonaro, nem cogitar chamar o filho 04, Jair Renan. Essas coisas jogariam luz em coisas que não têm nada a ver com o objetivo da CPI e o relatório final passaria sem essas pessoas”, disse.

André César afirma que esta data limite chegou no ponto final. “Não pode durar mais. Com mais quinze dias ou um mês, já seria demais e já teria perdido o timing. Este já é um assunto que vai deixar sequelas. Muito do que foi descoberto e mostrado à sociedade vai ficar permanentemente na história e, sem dúvida nenhuma, será usado na campanha eleitoral do ano que vem”, conta.

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