Correio Braziliense, n. 21382, 01/10/2021. Política, p. 3

Disputa no BNB expõe fratura no PL

Jorge Vasconcellos


Após pressão do ex-deputado Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal (PL), o Conselho de Administração do Banco do Nordeste (BNB) aprovou, ontem, a exoneração do atual presidente da instituição, Romildo Rolim. O cargo será ocupado interinamente por Anderson Possa, que vinha atuando como diretor de Negócios do banco. O episódio envolve suspeitas de irregularidades e uma disputa pelo controle da instituição entre Costa Neto e o líder do PL na Câmara dos Deputados, Wellington Roberto (PB).

Rolim foi indicado ao comando do BNB pelo próprio PL e era apadrinhado publicamente por Roberto. Costa Neto pediu a demissão de toda a diretoria depois de ser cobrado pelo presidente Jair Bolsonaro sobre um contrato de R$ 600 milhões entre o banco e o Instituto Nordeste Cidadania (Inec), que avalia projetos de microcrédito.
Costa Neto é um dos principais caciques do Centrão, bloco de partidos que, hoje, comanda a articulação política do governo. A ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, pertence ao PL. Na terça-feira, com o aval de Bolsonaro, o presidente da sigla indicou o engenheiro Ricardo Pinto Pinheiro para a presidência do Banco do Nordeste — o que ainda está em análise.

R$ 60 bi em ativos
Por trás da disputa no BNB está o interesse pelo controle de uma instituição de peso no mercado financeiro da região Nordeste, com R$ 60 bilhões em ativos. Além disso, mantém uma carteira de crédito de R$ 40 bilhões e consome R$ 2,1 bilhões numa folha de pessoal que inclui funcionários em 11 estados. Anderson Possa, que vai ocupar interinamente a presidência após a exoneração de Rolim, pertence ao grupo do presidente do PL.

Na última segunda-feira, Costa Neto divulgou um vídeo em que pedia a demissão de toda a diretoria do banco. Na gravação, disse, ainda, ter enviado um ofício ao ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), e à ministra Flávia, com cópia a Bolsonaro, solicitando a destituição dos diretores.

No vídeo, o presidente do PL conta ter sido surpreendido, na noite de sexta-feira da semana passada, por uma mensagem enviada pelo presidente questionando-o se tinha conhecimento de um contrato de R$ 600 milhões entre o BNB e uma ONG. Costa Neto relatou que, embora tenha duvidado do episódio, decidiu apurar o caso.

"Liguei para o presidente do banco e fui surpreendido. Ele estava contratando uma empresa, mas era muito caro o preço. Achei uma barbaridade um banco contratar uma ONG por R$ 600 milhões por ano. E isso há muitos anos", disse Costa Neto na gravação. Ele afirmou, ainda, que o partido não tinha conhecimento da parceria e acrescentou que uma instituição da importância do BNB não pode ter uma ONG como contratada.

Em resposta, o banco divulgou nota negando irregularidades e esclarecendo que a parceria com a ONG existe desde 2003, quando começou o processo de expansão do programa de microcrédito e que, no momento, esse segmento se encontra em fase de "modelagem".

Rolim estava na presidência do Banco do Nordeste desde 2017, indicado pelo MDB no governo Michel Temer. No ano passado, foi reconduzido ao cargo depois de Bolsonaro, contrariando suas próprias declarações, decidir entregar ao PL o comando da instituição.