O Globo, n. 31511, 15/11/2019. Sociedade, p. 29

Rio de Janeiro já enfrenta surto de sarampo
Constança Tatsch
Evelin Azevedo


Vizinho de um estado que vive epidemia de sarampo e com a menor adesão à primeira fase da campanha nacional de vacinação, o Rio de Janeiro já enfrenta, segundo especialistas, um surto da doença.

A cidade teve 48 casos neste ano, até 8 de novembro, dos quais 35 foram contraídos no próprio município, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Outros 74 estão sendo investigados — segundo especialistas, entre 40% e 50% dos casos informados acabam sendo confirmados, num processo que pode demorar até 50 dias.

Até o início de setembro, havia apenas dois casos confirmados no Rio, ambos contraídos fora. A quantidade de confirmações de sarampo na cidade neste ano já é maior do que todos os casos registrados nos últimos 18 anos.

Para Daniel Soranz, professor e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz e ex-secretário municipal da Saúde, é importante informar que existe um surto acontecendo.

— Um dos princípios da vigilância epidemiológica é informar sobre os riscos. As pessoas precisam saber o que está acontecendo — afirma.

Procurada pela reportagem ao longo da semana, a Secretaria Municipal de Saúde não informou a evolução dos casos de sarampo na cidade, semana a semana. A Secretaria de Estado da Saúde também não enviou os números absolutos.

Para Soranz, as demissões de equipes de saúde da família explicam o aumento dos casos, apesar do sarampo ser evitável por meio da vacinação.

— São as unidades responsáveis por vacinara população, e lasque identificamos casos de sarampo e, junto coma Vigilância Epidemiológica, realizam as ações de bloqueio vacinal no território — afirma Soranz.

De acordo com o infectologista e diretor-clínico do Grupo Fleury, Celso Granato, há surto de uma doença quando o número de casos aumenta consideravelmente em relação ao registro anterior. Como várias localidades do Brasil quase não tinham sarampo, um número peque nojá indicaria surto. Além disso, a transmissão loca lé um agravante.

— A falta de vacinação causou esse surto em São Paulo e, no Rio, a situação é semelhante. Há uma acomodação da população, que não vê isso como uma coisa relevante.

NOVA ETAPA DE VACINAÇÃO

Alguns aspectos deixam os especialistas em alerta: o sarampo é a doença mais contagiosa que afeta o ser humano, com chance de contágio de 96%. Além disso, na primeira fase da campanha nacional de vacinação contra o sarampo, que acabou em 28 de outubro, o estado do Rio teve a pior cobertura, com 69,2% das crianças de seis meses a um ano imunizadas, contra a média de 95% no país.

Na terça-feira, dia 19, se inicia uma nova etapa da campanha, coma vacinação de adultos entre 20 e 29 anos de idade que não tenham tomado as duas doses recomendadas da Tríplice Viral.

O professor de infectologia da UFRJ Edimilson Migowski considera o surto “uma tristeza”, pois o Rio deveria ter se preparado diante do problema no estado vizinho.

— Hoje são casos de sarampo, amanhã vamos contabilizar caxumba e, depois, rubéola, já que a vacina é a mesma. Educação da população é obrigação do Estado. Se você explica, promove a vacinação, a população acaba se mobilizando.

A baixa adesão à campanha mostra que os cariocas não estão alertas para os riscos. Mais da metade dos casos confirmados na capital fluminense foram de crianças com idades entre 6 meses a 9 anos. Entre os 35 casos confirmados, apenas 48,6% (17) possuíam histórico de vacinação prévia.

Perguntas e respostas sobre o sarampo

> O que é e como se prevenir?

O sarampo é uma doença infecciosa aguda, de natureza viral, grave , transmissível e extremamente contagiosa. A única prevenção é a vacina Tríplice Viral,que também protege contra caxumba e rubéola.

> Quantas doses da vacina são necessárias?

Para ser considerada protegida, a pessoa precisa tomar duas doses na vida, com intervalo mínimo de um mês. Crianças, adolescentes e adultos com até 29 anos que ainda não foram vacinados devem receber duas doses. De 30 a 49 anos, dose única. Maiores de 50 anos não precisam se vacinar.

> Quem precisa tomar?

No dia 19 de novembro, seguindo calendário do Ministério da Saúde, começa a campanha de intensificação da vacinação de adultos com idades entre 20 e 29 anos que não tenham tomado duas doses recomendadas da Tríplice Viral. Para ver o posto de vacinação mais próximo no Rio, acesse subpav.org/ondeseratendido/

> Quem não sabe se já foi imunizado deve tomar a vacina?

Sim. Caso haja dúvida, o recomendado é se vacinar, com duas doses. A vacina é contraindicada para gestantes,bebês menores de 6 meses e pessoas com imunidade comprometida.

> Quais os sintomas?

Febre, acompanhada de tosse, irritação nos olhos, coriza e mal-estar intenso. Quando o quadro completa de três a cinco dias, podem aparecer manchas vermelhas, especialmente no rosto