O Globo, n.31.623, 06/03/2020. Economia. p.21

Após PIB fraco, Bolsonaro e Guedes ouvem empresariado

João Sorima Neto 

Leo Branco 

 

Um dia após a divulgação do desempenho da economia brasileira em 2019, que cresceu 1,1%, abaixo das expectativas iniciais, que apontavam alta de 2,5%, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, se encontraram com 34 empresários e executivos, em um almoço realizadonas e deda Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

O encontro reuniu pela primeira vez Bolsonaro e Guedes na sede dos industriais paulistas e durou mais de quatro horas. Sem pauta definida, o presidente, Guedes e outros ministros presentes ouviram sugestões, principalmente sobre a reforma tributária. Entre os outros temas discutidos, estiveram o coronavírus e o licenciamento ambiental.

Na abertura, Bolsonaro falou por três minutos diante do presidente da Fiesp, Paulo Skaf. Em seguida, anotou boa parte do que ouviu do empresariado. Fez questão de estender o tempo de permanência para que todos os presentes falassem.

Ao fim da reunião, Bolsonaro comprometeu-se a retomar a conversa ali mesmo na Fiesp em três meses. Presente ao almoço, Elie Horn, fundador da construtora Cyrela, recebeu, de forma positiva, a notícia:

— O presidente prometeu manter um canal aberto com o empresariado.

‘RECEITA ATRAPALHA’

Horas após o encontro, numa rede social, Bolsonaro criticou a imprensa por “falar mal do PIB” e exaltou o apoio empresarial:

— Ouvimos muitas coisas que competem a nós resolver, que são decretos presidenciais, portarias dos ministérios e também normas da Receita Federal. É impressionante, o Paulo Guedes ficou até meio assustado, né? Como a Receita atrapalha em algumas áreas o desenvolvimento do Brasil. É coisa terrível a burocracia, terrível.

Para Bolsonaro, os empresários nunca sentiram tanta confiança no trabalho do governo.

Presente ao evento, o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, disse que o encontro foi muito importante. Para o executivo, tanto o presidente quanto Guedes mostraram que existe compromisso para aprovar este anoa reforma tributária, mesmo sentimento que os empresários sentem em relação ao Congresso Nacional.

— Existe um compromisso efetivo de entregar uma reforma tributária que simplifique o sistema —disse.

O executivo do Bradesco afirmou que a confiança dos empresários no governo se sedimentou em 2019. Para Trabuco, o histórico do governo no primeiro ano foi positivo, com medidas como a reforma da Previdência e a queda dos juros.

—Mas a manutenção dessa confiança precisa estar ancorada na reforma tributária, na administrativa, numa aceleração do movimento de privatizações. Essas são as âncoras de 2020, para que o Brasil atravesse o ano, melhore sua nota de e volte ao grau de investimento. Se não em 2020, em 2021 —disse Trabuco.

Segundo relatos do empresariado, Guedes disse que quer ver uma reforma tributária aprovada neste ano, mas não “qualquer reforma”. Por outro lado, ponderou a necessidade de o governo aprovar “o que for possível”.

Outro empresário presente, que preferiu não ter o nome revelado, disse que o clima entre o empresariado ainda é de otimismo com o governo Bolsonaro, mas “sem euforia”.

CRESCIMENTO DO PIB

Sobre o resultado do PIB de 2019, Guedes tentou argumentar com os empresários que, quando se compara o crescimento do quarto trimestre de 2019 com o mesmo período de 2018, o Brasil está crescendo 1,7%, um ritmo mais acelerado do que mostrou o PIB fechado do ano passado inteiro.

Na visão de um dos presentes, foi “um encontro republicano”, porque todos falaram e o presidente escutou. Na opinião desse executivo, não foi “uma reunião chapabranca”, com empresários fazendo fila para elogiar o governo. O assunto reeleição em 2022 esteve fora da pauta, segundo esse empresário.

Entre os presentes estavam os presidentes da Embratur, Gilson Machado; da Latam, Jerome Cadier; da Embraer, Francisco Gomes Neto, e da Boeing Brasil Commercial, Marc Allen.