O Globo, n. 31513, 17/11/2019. Opinião, p. 2

Extinção do DPVAT terá impacto para vítimas de acidentes de trânsito


A extinção, pelo presidente Jair Bolsonaro, do DPVAT, o seguro obrigatório para proprietários de veículos, não atinge apenas o presidente do PSL, Luciano Bivar, adversário político de Bolsonaro e sócio de uma seguradora que atua no setor — embora o argumento oficial seja a existência de fraudes no sistema. A decisão terá impacto principalmente para as vítimas de acidentes de trânsito. Não só pelas indenizações, que cessarão a partir do ano que vem. Mas pelo que deixará de repassara o SUS. Do total arrecadado , 50% vão para a União, sendo 45% para o SUS e 5% para o Denatran. Entre 2008 e 2018, foram repassados R$ 33,4 bilhões ao SUS e R$ 3,7 bilhões ao Denatran. Além disso, no ano passado, o DPVAT indenizou 328 mil vítimas de acidentes ou seus parentes (morte, invalidez e reembolso de despesas médicas). A maior parte dos casos se refere a ocorrências com motos. Ao anunciar o fim do DPVAT, o governo informou que as vítimas ficarão amparadas pelo atendimento no SUS, pelo INSS (auxílio-doença, aposentadoria por invalidez, auxílio-acidente e pensão por morte, além do Benefício de Prestação Continuada). Especialistas

argumentam, no entanto, que os sistemas são diferentes, já que para ter direito a esses benefícios é preciso contribuir com o INSS, o que não acontece, por exemplo, com os informais. Não se pode ignorar que o trânsito no Brasil é um dos mais violentos do mundo. A cada ano, mata cerca de 35 mil pessoas eleva aos hospitais 160 mil acidentados, sobrecarregando o SUS. Coma retirada de pardais das rodovias federai se a flexibilização da legislação de trânsito para atendera nichos eleitorais, essa situação só tende a se agravar. E com menos recursos para cuidar das vítimas.