O Globo, n. 31473, 08/10/2019. País, p. 08

Ministro denunciado não constrange, diz Weintraub

Thiago Herdy


O ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse ontem que a presença do titular do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, no governo do presidente Jair Bolsonaro não é motivo de constrangimento.

Depois de virar alvo de uma investigação da Polícia Federal, junto com mais dez pessoas, Álvaro Antônio foi denunciado, na última sexta-feira, pelo Ministério Público (MP) de Minas Gerais por crimes eleitorais e associação criminosa vinculada a candidaturas-laranja do PSL, que teriam desviado recursos do fundo eleitoral no ano passado. O esquema foi denunciado pelas próprias candidatas, em depoimentos prestados ao MP.

Após a notícia do indiciamento vir a público, o portavoz da Presidência da República, Otávio do Rêgo Barros, informou que Bolsonaro decidiu manter o ministro no cargo, apesar das acusações que pesam contra ele. Álvaro Antônio nega qualquer irregularidade e fala em campanha difamatória.

Durante um evento para entrega de ônibus escolares em São Paulo, Weintraub afirmou ser “100% a favor do combate à corrupção e contra pessoas que desviaram recursos,” mas defendeu que paguem pelo crime apenas quando houver “provas cabais, concretas,” em especial quando forem “condenadas pela Justiça.”

— Constrangimento? Não. Tem um monte de acusações, sobre um monte de pessoas, que você tem que provar na Justiça. Eu não sou polícia, Ministério Público, não sou juiz. Não falo sobre outros ministérios, falo pelo MEC — desconversou o ministro.

De acordo com o promotor Fernando Abreu, o processo tramitará no Judiciário mineiro, e não em Brasília, porque os fatos denunciados são anteriores ao mandato de deputado federal e ao cargo de ministro.

A investigação da Polícia Federal, avalizada pelo Ministério Público mineiro, apontou que o grupo do PSL utilizou recursos de candidaturas femininas falsas para custear despesas de outros candidatos do partido durante o pleito.

— Segundo a prova dos autos, o denunciado Marcelo era a cabeça principal dessa associação que foi montada para praticar a fraude na utilização dos recursos do fundo partidário eleitoral —afirmou o promotor Fernando Abreu na última sexta-feira.

Abreu lembrou ainda que além de presidente do partido, Marcelo era “detentor da liderança de fato do próprio partido, uma vez que a composição da estrutura da diretoria era toda ela ligada ao seu gabinete enquanto deputado federal”.

Segundo Abreu, a estrutura montada para desviar recursos envolvia três categorias de intermediários. A primeira atuava na cooptação de mulheres para que fossem candidatas-laranja, além de estabelecer ligações com as gráficas onde seriam produzidos os materiais.

A segunda categoria envolvia os donos de gráficas, que emitiam notas fiscais subfaturadas ou mesmo em nome de terceiros, com os recursos desviados do fundo partidário. A terceira categoria envolvia os próprios beneficiários dos recursos, candidatos que de fato disputavam a campanha, entre eles o próprio Álvaro Antônio, que foi beneficiado com parte dos recursos desviados para sua campanha a deputado federal.

Ensino técnico

Presente na cerimônia de entrega de ônibus escolares, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, também evitou comentar os problemas na Justiça envolvendo seu colega de partido. Ao ser questionado se Álvaro Antônio deveria prosseguir no governo, ele ficou em silêncio e encerrou uma entrevista que concedia a jornalistas, entrando no carro que o levou até o evento.

Durante o ato, Weintraub anunciou o lançamento do programa “Novos Caminhos”, iniciativa para ampliar o alcance do ensino técnico no Brasil. Segundo ele, a meta do governo é aumentar nos próximos três anos em até 80% o número de alunos em ensino técnico no Brasil.