O Globo, n. 31472, 07/10/2019. Sociedade, p. 20

Papa abre sínodo com crítica às queimadas na Amazônia



Com uma missa celebrada na Basílica de São Pedro, no Vaticano, o Papa Francisco abriu o Sínodo para a Amazônia, na manhã de ontem, condenando as queimadas na região e o que qualificou de “novos colonialismos”.

Usando as chamas como metáfora durante sua homilia, Francisco defendeu que a região amazônica precisa do “fogo do amor de Deus” e pediu aos católicos que “o fogo missionário não se apague”. Para ele, este deve ser um “fogo amoroso que ilumina, aquece, dá vida, e não o que se estende e devora”.

— O fogo ateado por interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazônia, não é o do Evangelho — disse o Papa.

— Quando povos e culturas são destruídos sem amor e sem respeito, não é o fogo de Deus que os devora, mas sim o fogo do mundo.

Mais de 200 prelados, entre bispos e cardeais, participaram da cerimônia, bem como indígenas da Amazônia, alguns em trajes típicos. Durante seu sermão, o Papa também reconheceu o papel da Igreja na colonização da região, no passado.

— Quantas vezes o dom de Deus não foi oferecido, mas imposto, quantas vezes houve colonização em vez de evangelização?— afirmou o Pontífice argentino ao se referir à história da região.

— Deus nos salve da ganância dos novos colonialismos.

Francisco reconheceu ainda missionários que perderam a vida na Amazônia por “testemunhar o Evangelho” e citou o cardeal brasileiro Dom Cláudio Hummes, que é o relator-geral do sínodo e teria lhe pedido que esses mártires sejam declarados santos pela Igreja. Um dos casos mais famosos em todo o mundo é o da Irmã Dorothy Stang, religiosa norte-americana assassinada com seis tiros em 2005, aos 73 anos, por enfrentar poderes paralelos na região de Anapú, no Pará.

Temas

O Sínodo para a Amazônia foi convocado pelo Papa há dois anos, quando a questão ambiental na região ainda não era uma crise internacional. A assembleia de bispos vai até o dia 27 e discutirá não só os problemas climáticos, mas novas formas de evangelização dos povos indígenas.

No total, 113 padres e bispos da região amazônica, juntamente com especialistas, missionários e indígenas, participarão das reuniões. Cerca de 87 mil indígenas amazônicos foram consultados sobre as principais ameaças que pesam sobre a região.