O Globo, n. 31470, 05/10/2019. País, p. 10

Registros colocam em xeque episódio narrado por Janot

Cleide Carvalho


O diário eletrônico do Ministério Público Federal (MPF) e os registros de voos da Força Aérea Brasileira (FAB) indicam que o exprocurador-geral da República Rodrigo Janot estaria em Belo Horizonte (MG) entre os dias 10 e 15 de maio de 2017. A agenda não coincide com o relato de Janot à imprensa na semana passada. Ele narrou ter ido ao prédio do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, com o intuito de matar a tiros o ministro Gilmar Mendes e depois se suicidar. A sessão na qual Janot quase atirou no magistrado ocorreu no dia 11 de maio, segundo a revista “Veja”, que publicou entrevista com o exprocurador sobre o plano. De acordo com o diário do MPF, os compromissos oficiais de Janot em Belo Horizonte aconteceram entre 14h do dia 10 e 21h do dia 12 e custaram R$ 3,2 mil. A agenda incluiu uma reunião na Procuradoria-Geral da República no estado e uma palestra na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A informação de que Janot não estaria em Brasília foi publicada pelo portal Jota, com base em registros da FAB confirmados pelo GLOBO. Um voo levou Janot de Brasília para Belo Horizonte em 10 de maio e outro o transportou de volta à capital federal em 15 de maio. Há também, segundo o Jota, uma ata do STF que aponta a substituição de Janot pelo vice dele, Bonifácio Andrada, em sessão do dia 10 — a narrativa era de que isso só teria acontecido após a tentativa de assassinato interrompida, no dia 11. Questionada, a Procuradoria-Geral da República (PGR) não confirmou os compromissos que constam no diário eletrônico do MPF. Janot, por sua vez, não foi localizado pelo GLOBO.