O Globo, n.31.629, 12/03/2020. País. p.10

Imprensa no Brasil sofreu 11 mil ataques diários nas redes sociais
Aguirre Talento 

 

A imprensa profissional foi alvo de uma média de 11 mil ataques diários nas redes sociais em 2019, de acordo com estudo feito pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), divulgado ontem.

Segundo o relatórios obre violações à liberdade de expressão, o número de registros de violência contra jornalistas diminuiu 50,78% em 2019, totalizando 56 casos contra 78 profissionais, dentre agressões físicas (24), ofensas (8), intimidações (6), ameaças (5), censuras (5), ataques/vandalismos (4), assédios sexuais (1), injúrias raciais (1), detenções (1) e roubos/furtos (1).

Pela primeira vez, o estudo contabilizou também os ataques realizados no mundo virtual contra a imprensa, por meio de análise realizada pela empresa Bites, que faz monitoramento de redes sociais.

O estudo contabilizou que, em 2019, os 130 milhões de brasileiros com acesso ao Twitter fizeram 6,2 bilhões de publicações. Desse universo, 39,2 milhões tiveram conteúdos com as palavras “mídia”, “imprensa”, “jornalista” e “jornalismo”.

A partir desse recorte, foram contabilizados os ataques feitos nessas publicações. Foram 3,2 milhões de postagens com palavras de baixo calão ou expressões que tentaram desacreditar o trabalho da imprensa por perfis e sites considerados de orientação política conservadora. Além disso, foram produzidos 714 mil tuítes com ataques à imprensa por perfis e sites considerados de esquerda.

“No total, a imprensa profissional sofreu quase 11 mil ataques diários pelas redes sociais, uma média de sete agressões por minuto”, apontou o estudo da Abert.

Questionado sobre os ataques contra a imprensa feitos pelo presidente Jair Bolsonaro e seus ministros, o presidente da Abert, Paulo Tonet Carmago, afirmou que o assunto é “objeto de preocupação”.

—Alguém faz um tuíte, ou o próprio presidente, um ministro, um senador, e por ser esse personagem que faz, ele ganha uma replicação rápida e toma uma dimensão muito grande, ao ponto de chegarmos nesses números alarmantes. Óbvio que quanto mais importante o personagem, maior a possibilidade de alcance e replicação deste tuíte —disse.

EXPOSIÇÃO DE JORNALISTAS

A análise feita pela Bites, sob encomenda da Abert, aponta que Bolsonaro não passou um dia doa node 2019 sem criticar a imprensa em suas redes sociais. Das 5.708 publicações feitas pelo presidente, 432 trouxeram “críticas, insinuações e advertências sobre o trabalho dos veículos e jornalistas”. Esses conteúdos geraram 51,7 milhões de interações.

Segundo o relatório, o ataque de maior repercussão foi ao jornal “Folha de S.Paulo” em 16 de maio, após uma matéria sobre o contingenciamento no Orçamento da União, especialmente na área da Educação. A publicação no Instagram alcançou 1 milhão de interações, segundo o relatório.

“Essa posição do presidente, como líder da infantaria, deixou à vontade outros integrantes do governo, que seguiram em 2019 o mesmo caminho, como o ministro da Educação, Abraham Weintraub. No campo dos influenciadores digitais ligados ao presidente, o grupo de 15 nomes, incluindo o empresário Luciano Hang, acionista das Lojas Havan, produziu 3.822 posts em suas redes sociais com críticas à imprensa, com 14 milhões de interações em 2019”, diz o relatório.

A análise cita que apoiadores do presidente expuseram jornalistas como compartilhamento dos números de telefones e propuseram boicote e cancelamento de assinaturas de veículos de comunicação.

Segundo Camargo, houve uma mudança metodológica em relação a 2019, coma separação dos ataques virtuais em um novo capítulo do relatório. P orisso, os números mostraram uma diminuição das violaçõesà liberdade de imprensa fora do mundo virtual.