O Estado de S. Paulo, n. 46868, 11/02/2022. Metrópole, p. A17

Vacinação mudou perfil dos hospitalizados e mortos pela covid-19

Karina Toledo


 

A vacinação mudou o perfil dos hospitalizados por covi no Brasil e também das pessoas que morrem em decorrência da doença. Um estudo conduzido em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, registrou o início desse processo.

A equipe do Laboratório de Pesquisas em Virologia da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) analisou retrospectivamente dados de 2.777 pacientes atendidos entre 5 de janeiro e 12 de setembro de 2021 no Hospital de Base, que é referência para toda a região. Nessa época, a variante Gama (P.1) do SARS-CoV-2 predominava no Estado e os idosos eram maioria no grupo de brasileiros com o esquema vacinal completo (duas doses, até então).

Todos os internados com covid-19 no período foram divididos entre vacinados e não vacinados. E os pesquisadores compararam as características dos integrantes de cada grupo – desde idade, sexo e presença de comorbidades até sintomas que apresentaram, condutas clínicas adotadas durante a internação e desfechos (recuperação ou óbito). Os dados completos foram divulgados este mês no Journal of Infection.

Nosso objetivo era descobrir qual é o melhor preditor de mortalidade entre os vacinados", contou à Agência Fapesp Maurício Lacerda Nogueira, professor da Famerp e autor correspondente do estudo, que contou com apoio da Fapesp por meio de três projetos.

Entre os 2.518 participantes não imunizados, a idade média era de 51 anos e 71,5% apresentavam uma ou mais comorbidades, sendo as mais comuns cardiopatia, diabete e obesidade. Já entre os 259 hospitalizados que haviam recebido duas doses de vacina, a idade média era de 73 anos e 95% tinham doenças de base.

Na análise estatística, os fatores que se correlacionaram com risco aumentado de hospitalização e morte entre os não vacinados foram idade superior a 60 anos e a presença de uma ou mais das seguintes condições: cardiopatia, distúrbios no fígado ou neurológicos, diabete, comprometimento imunológico e doença renal. Já entre os imunizados só idade acima de 60 anos e insuficiência renal se configuraram como preditores de mortalidade. "Essa é uma evidência clara de que a vacina protege muito bem e salva vidas", afirma Nogueira.

Na avaliação de Cássia Fernanda Estofolete, primeira autora do estudo e integrante do Laboratório de Pesquisas em Virologia da Famerp, o avanço da vacinação mudou "drasticamente" o perfil do paciente internado por covid-19 e também a história natural da doença, ou seja, a forma como ela evolui.

Situação Atual. "Hoje, com a volta das cirurgias eletivas, o avanço da vacinação e a emergência da Ômicron, temos visto um panorama diferente nos hospitais", diz ela. Muitos pacientes são internados para fazer uma cirurgia agendada ou por trauma e acabam descobrindo que estão com covid-19, ou seja, não é o vírus que leva a pessoa ao hospital. E também há muitos idosos com comorbidades que acabam sendo internados porque a covid-19 exacerba a doença de base – descompensa diabete ou a insuficiência renal. "A maioria já não é internada por SRAG (síndrome respiratória aguda grave ), como era na época em que o estudo foi feito."