O Globo, n. 31517, 21/11/2019. Economia, p. 17

Corrida pelo 5G
Bruno Rosa
Gabriel Shinohara


Em meio à disputa para quem vai fornecer a rede 5G no Brasil, as operadoras de telecomunicações iniciaram uma verdadeira corrida para instalar redes de fibra ótica Brasil afora, infraestrutura essencial para permitir a chegada da quinta geração de telefonia. A expectativa é que os investimentos de Oi, Vivo, Claro e TIM cheguem a R$ 33 bilhões entre este ano e 2021 apenas na ampliação da rede capaz de trafegar dados em alta velocidade.

Ontem, Carlos Slim Domit, filho do bilionário mexicano Carlos Slim e presidente do Conselho de Administração do grupo América Móvil, dono da Claro no Brasil, se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. No encontro, anunciou que a empresa vai investir R$ 30 bilhões em infraestrutura e serviços no país nos próximos três anos.

A visita do mexicano ocorre dois dias depois de Yao Wei, o principal executivo da chinesa Huawei, ter se reunido com Bolsonaro. A companhia, que está no centro da guerra tecnológica entre China e EUA, é a maior fornecedora de equipamentos de telecomunicações e uma das líderes na tecnologia 5G. Seus principais rivais são a sueca Ericsson e a finlandesa Nokia.

Slim disse que tem muito interesse na implantação da rede 5G no Brasil.

— O importante é que venha uma estratégia 5G que trará muito investimento, cobertura e desenvolvimento de serviço —afirmou o executivo, destacando que trabalha com todos os fornecedores. — Com todos temos uma relação muito boa.

O leilão de 5G — que foi incluído no Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), sob responsabilidade do executivo federal — ainda não tem data para ocorrer. A expectativa é que as novas frequências sejam licitadas ou no segundo semestre de 2020 ou apenas em 2021.

Os EUA acompanham de perto os trâmites para a realização do leilão. E pressionam o governo brasileiro para que as operadoras nacionais não façam negócios com a Huawei, a quem acusam de espionagem. A chinesa não participará do leilão, mas fornece equipamentos para as operadoras que farão os lances.

Ontem, Bolsonaro disse que o Brasil faz comércio com o mundo todo e que deve "embarcar" na proposta de 5G que for melhor para o Brasil.

BOLSONARO EVITA POLÊMICA

— Nós fazemos comércio com o mundo todo, tem mais empresas habilitando (para o leilão) também. O que for melhor para o Brasil tecnicamente e financeiramente a gente embarca nessa — disse o presidente.

Um dos principais desafios para o leilão é a limitada rede de fibra ótica no Brasil. Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), ela inexiste em 32% dos municípios (1.805).

Já a fibra até a casa do cliente (chamada de FTTH, em inglês) está presente só em 8,5 milhões de lares. E as tecnologias mais antigas (cabos de cobre e coaxial) chegam a 21,7 milhões de residências. Pouco perto dos 70 milhões de casas do país.

Para especialistas e as próprias teles, é preciso ampliar a rede em cidades menores e a capacidades nos grandes centros urbanos. Através da fibra ótica, as empresas conseguem oferecer internet acima de 100 mega (Mbps) — cerca de quatro vezes maior que a média atual.

A maior parte dos investimentos em fibra só começou a ganhar força nos últimos dois anos. Isso ocorreu por contada queda nos preços da tecnologia devido ao aumento da produção de países como China, Japão e Coreia. Na Oi, o investimento em ampliação de fibra é visto como um dos principais pilares de recuperação financeira da companhia.

Dos R$ 7,5 bilhões que a tele prevê investir neste ano, mais de 60% serão destinados à ampliação da rede. A empresa tem mais de 400 mil quilômetros de fibra em 2.300 cidades. Segundo Rodrigo Abreu, diretor de operações da Oi, a rede vai permitir vender serviços de maior valor agregado, gerando mais receitas.

— O investimento em fibra está de certa maneira ligado ao 5G e também visa a atender a demanda atual de 4G — afirmou Abreu. — Queremos fechar o ano com mais de 5 milhões de casas com fibra na porta.

Na Vivo, a meta é fechar o ano com 10 milhões de casas, com o serviço de fibra disponível em 154 cidades. De 2018 a 2020, a companhia destinará R$ 7 bilhões para o projeto.

— Começamos o projeto de fibra em São Paulo há dez anos, mas o Brasil é muito grande. Na Espanha, 100% já é fibra. Essa tecnologia permite melhorar a experiência do cliente. A velocidade que mais vendemos é 100 mega, mas estamos trabalhando para ter opções com até 1 giga — disse Márcio Fabbris, vice-presidente da Vivo.

NOVAS SOLUÇÕES

Para o especialista em rede Hermano Pinto, com a chegada do 5G, a necessidade de redes mais robustas será crucial para aumentar o número de clientes e as receitas. Ele explicou ainda que o 5G vai exigir novas soluções. Um exemplo é a construção de fibras até pontos centrais dos bairros que vão se comunicar com as antenas sem fio da quinta geração de telefonia até a casa do consumidor.

— O 5G terá o papel de banda larga fixa. A fibra não vai necessariamente chegar dentro da casa, mas ficará perto. Sem isso, não será possível entrar nessa nova era — destacou Hermano.

A TIM, que deve entrar na disputa pelo 5G, iniciou o processo de ampliação da rede de fibra ótica ano passado e espera chegar a 800 cidades neste ano, disponibilizando o serviço para 1,3 milhão de casas. Dos R$ 12,5 bilhões de investimentos previstos entre 2019 e 2021, um terço vai para a ampliação do transporte de dados, diz Leonardo Capdeville, vice-presidente de Tecnologia da TIM:

— Se hoje com o 4G esse investimento já é necessário, com o 5G a demanda vai ser ainda maior. O movimento será intensificado, já que será necessária a instalação de mais antenas.

André Sarcinelli, diretor de Engenharia da Claro, disse que a fibra é fundamental para o 5G:

— A capilaridade de fibra é fundamental para o futuro do 5G. Com a rede de fibra, fizemos a primeira transmissão holográfica via 5G em um estádio em São Paulo. Ela é crucial para conectar a estação de rádio base 5G ao centro da rede.