O Globo, n. 31517, 21/11/2019. País, p. 10

Câmara vai reinstalar obra destruída por deputado
Isabella Macedo
Natália Portinari


O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciou ontem que o painel do cartunista Carlos Latuff vai retornar à exposição sobre o mês da Consciência Negra na Casa. A informação foi publicada pela colunista do GLOBO Bela Megale.

Na terça-feira, o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) retirou e quebrou uma tela de Latuff. A imagem continha uma charge que retratava um homem negro, algemado, assassinado por um policial com uma arma na mão. Ontem, no dia da Consciência Negra, deputados da oposição fizeram um ato em protesto contra a quebra do painel.

Deputados do PT, PCdoB e PSOL caminharam, acompanhados de militantes do movimento negro, até o local onde ficava o quadro gritando “racistas, fascistas, não passarão” e colaram reproduções da imagem que estava exposta, além de outras imagens que retratam a letalidade policial.

Latuff declarou em suas redes sociais que o ataque do deputado mostra o genocídio negro e a tentativa de cercear a liberdade de expressão.

— Não é um ataque a uma charge ou a uma exposição, mas à democracia e à liberdade de expressão — disseLatuff, em um vídeo na internet, ao cobrar do presidente da Câmara que o painel retorne.

O cartunista ainda publicou em suas redes ontem uma nova charge na qual retrata o ataque do deputado, com o painel quebrado no chão, manchado de sangue, e um espaço vazio na parede no lugar onde antes estava sua obra na exposição.

Há uma negociação para que o painel volte junto com uma placa que faça menção de que a charge não representa a polícia como um todo.

Com o título “Trajetórias Negras Brasileiras”, a mostra foi instalada em 18 de novembro. A exposição é organizada pela própria Câmara.

Parte da exposição inclui personalidades como Maria Firmina dos Reis, a primeira romancista brasileira, e Ruth de Souza, atriz da década de 1940.Um painel retrata as“damas do samba”: Tia Ciata, Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus, Jovelina Pérola Negra, Leci Brandão e Alcione.

São citadas uma lei de 2003 que obriga o ensino de história e cultura africana nas escolas, o Estatuto da Igualdade Racial, de 2010, e a Constituição de 1988. Uma placa lembra a Marcha Zumbi, que reuniu “cerca de 30 mil pessoas em Brasília” em 1995, e outra homenageia a Lei Caó, que criminalizou o racismo em 1989.