O Globo, n. 31468, 03/10/2019. País, p. 7

Comissão da Câmara aprova convite para Janot se explicar

Gabriel Shinohara


A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou ontem um convite para que o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot fale sobre suas recentes declarações. Em entrevistas, o ex-procurador-geral disse que entrou armado no Supremo Tribunal Federal (STF) com a intenção de assassinar o ministro Gilmar Mendes. O comparecimento de Janot não é obrigatório.

No requerimento, o deputado Delegado Pablo (PSLAM) não cita as declarações de Janot, mas sim as operações de busca e apreensão que aconteceram na última sexta-feira, após a fala do ex procurador-geral.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, foi quem determinou as operações na casa e no escritório de Janot, em Brasília. A Polícia Federal apreendeu uma pistola, três carregadores e 24 munições, além de um celular, tablet e computador. Moraes é relator do inquérito que tramita no STF para apurar ameaças à Corte e aos ministros. Janot está proibido de se aproximar a menos de 200 metros de qualquer um dos ministros e de entrar no Supremo.

O autor do requerimento disse querer ouvir Janot por causa de declarações envolvendo “autoridades da República” que podem ter tentado barrar o trabalho do Ministério Público Federal. O ex procurador-geral disse que o ex-presidente Michel Temer pediu para ele arquivar uma investigação contra o então presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ).

— Essas pessoas que de alguma forma tentaram fazer o trabalho da Polícia Federal e do Ministério Público não caminhar têm que prestar contas à Justiça. Essa casa do povo é o lugar correto para que haja as explicações aqui, e a gente vê se já há mais fatos a serem apurados, outras situações que merecem destaque —justificou Pablo.

Outros convites

O parlamentar também incluiu no requerimento convites para o ex-chefe de gabinete da Procuradoria-Geral da República (PGR) Eduardo Pelella — que esteve no cargo no período em que Janot comandou o órgão — e o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. Deputados de oposição pediam a inclusão de Deltan Dallagnol, coordenador da Lava-Jato em Curitiba. A sugestão, no entanto, foi recusada pelo autor do requerimento.

O deputado José Guimarães (PT-CE) sugeriu então a proposição de um novo requerimento, para ser incluído na pauta da próxima semana, convidando Dallagnol para comparecer à comissão. A proposta foi apoiada por deputados da oposição.