O Estado de S. Paulo, n. 46866, 09/02/2022. Política, p. A12

Moraes autoriza PF a usar inquérito contra Bolsonaro

Rayssa Motta

 

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou ontem o compartilhamento de provas do inquérito sobre o vazamento de investigação sigilosa pelo presidente Jair Bolsonaro com a apuração que mira a atuação de milícias digitais. A decisão atendeu a um pedido da delegada federal Denisse Ribeiro Dias Rosas, responsável pelas duas investigações.

Na avaliação do ministro, as semelhanças encontradas até o momento justificam o intercâmbio do material. "Verifico a pertinência do requerimento da autoridade policial, notadamente em razão da identidade de agentes investigados nestes autos e da semelhança do modus operandi das condutas aqui analisadas com as apuradas nos inquéritos 4.874/DF e 4.888/DF, ambos de minha relatoria", escreveu Moraes.

No primeiro inquérito, que apura o vazamento ilegal de investigação relativa a uma tentativa de ataque hacker aos sistemas internos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a Polícia Federal concluiu que Bolsonaro cometeu crime ao divulgar o conteúdo nas redes sociais. O material foi usado pelo presidente durante transmissão ao vivo para defender o voto impresso e colocar sob suspeita, sem provas, a segurança das urnas eletrônicas. O chefe do Executivo, no entanto, não foi indiciado em razão de seu foro privilegiado.

No relatório final da investigação, Denisse Rosas relaciona a atuação do presidente ao inquérito das milícias digitais. "O modo de agir é correlato", escreveu ela ao pedir o compartilhamento do material. Há duas semanas, Bolsonaro desobedeceu a determinação de Moraes e não compareceu para prestar depoimento no inquérito do vazamento.

Digital. A investigação das milícias digitais é derivada do inquérito dos atos antidemocráticos. Foi no âmbito dela que Moraes autorizou, em agosto do ano passado, a prisão do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB). A suspeita é de uma organização criminosa "de forte atuação digital, com a nítida finalidade de atentar contra a democracia e o estado de direito".