O Globo, n. 31467, 02/10/2019. País, p. 10

Corregedoria vai investigar Janot por plano de homicídio

Vinicius Sassine


O caso do ex-procurador geral da República Rodrigo Janot, que declarou ter entrado armado no prédio do Supremo Tribunal Federal (STF) em maio de 2017 com a intenção de assassinar o ministro Gilmar Mendes, será analisado pela Corregedoria Nacional do Ministério Público. Janot contou a história em entrevistas na última sexta-feira, antecipando parte do conteúdo do livro “Nada menos que tudo”, que ele vai lançar nas próximas semanas.

Os dois pedidos para que Janot seja punido foram feitos pelo subprocurador-geral Moacir Guimarães Filho. Um deles fala abertamente em censura do livro publicado pelo ex-procurador-geral em coautoria com os jornalistas Jailton de Carvalho, do GLOBO, e Guilherme Evelin. O ofício do subprocurador Guimarães pede a retirada da publicação das bancas ou até mesmo a exclusão das páginas que trazem o relato sobre o pensamento de Janot de assassinar o ministro do STF.

Guimarães Filho foi denunciado duas vezes pela procuradoria-geral da República, na gestão de Janot. Em uma delas, uma acusação de falsificar documentos, ele chegou a ser condenado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). O subprocurador diz que, “de certa forma”, aquelas denúncias o levaram a acionar a corregedoria contra Janot, por já condenar, há bastante tempo, as atitudes do ex-PGR.

—De certa forma, sim, porque considero injustas as duas ações. Eu já tinha feito representação contra Janot. Agora, apenas aditei com esse caso. Peço que se investigue e, se chegarem à conclusão de que houve falta administrativa, que se casse a aposentadoria.

Ele discorda que o pedido de apreensão do livro seja censura:

—Eu acho que não é. Poderia parecer censura se não houvesse uma nocividade do conteúdo que está no capítulo do assassinato. É nocivo porque incita a violência, incita as pessoas que lerem a tomarem o julgamento pelas próprias mãos quando se sentirem insatisfeitas com uma decisão judicial. Incita a cabeça a matar a autoridade que está investigando.