Correio Braziliense, n. 21375, 23/09/2021. Política, p. 2

Repúdio ao machismo



A sessão de ontem da CPI da Covid começou com um desagravo à agressão sofrida pela senadora Simone Tebet (MDB-MS) pelo ministro da Controladoria-Geral da União, Wagner Rosário — que a chamou de “descontrolada”. Boa parte dos colegas de Parlamento se solidarizou com ela e considerou a atitude do chefe da CGU grosseira, machista e que reflete a forma como o governo de Jair Bolsonaro trata os diferentes.

“Quando a mulher começou a ocupar espaços profissionais não domésticos, começou a ser tachada de histérica, louca, descontrolada, e até pouco antes do século passado nos internaram em manicômios. Como mulher, como cidadã, como mãe, para mim isso é página virada, mas, como líder da bancada feminina, é preciso que esse episódio venha a público pelo menos no caráter educativo. Essa palavra não vem à toa. Está no inconsciente daqueles que ainda acham que mulheres são menores, são inferiores”, disse Simone.

O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), advertiu que ainda é preciso “superar os traços patriarcais e machistas” na sociedade brasileira. “O que um machista não aceita é uma mulher diante dele em posição de firmeza, é uma mulher diante dele questionando. Desculpinha do Twitter não mascara o machismo intrínseco presente nas atitudes do presidente da República e dos seus filhos”, apontou.

Presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM) aproveitou a fala de Randolfe para lembrar que não foi um episódio isolado da oitiva. Ele observou que, um pouco antes de tê-la agredido, o ministro da CGU “insinuou” que a senadora era “burra”, pois mandou que lesse de novo o contrato. “Não disse diretamente, mas insinuou. O primeiro ataque foi esse”, salientou.

Aziz ainda criticou o senador bolsonarista Marcos Rogério (DEM-RO), que, quando a confusão se formou na sessão de terça-feira, classificou a CPI de “circo”. “Se fosse eu o atacado, tudo bem. Mas a reação ao ataque a uma senadora não pode ser chamado de circo. Não pode! Há mulheres que não têm a representatividade política que a Simone tem. A mulher não pode ser desequilibrada porque se contrapõe a um homem. É facil dizer ‘está doida, está louca’. Evoluímos nisso, mas ainda há pessoas nesse governo que involuíram em relação a isso”, disse Aziz, sem citar o nome de Rogério.

A senadora Laila Barros (Cidadania-DF) também foi lembrada por interpelar o senador bolsonarista. “Quero realçar e destacar a coragem de Leila Barros. Uma das cenas mais tristes que vi, e foi refutada e repelida por Leila, foi um colega senador, enquanto todos os demais reagiam em solidariedade à Simone, fazer coro com o machista. Teve a valentia e a coragem de Leila Barros para vir aqui gritar um sonoro não ao machismo”, lembrou Randolfe. (TA e FS)

Leia em: https://www.cbdigital.com.br/correiobraziliense/23/09/2021/p2