O Estado de S. Paulo, n. 46861, 04/02/2022. Política, p. A10

Pré-candidatos à Presidência colocam Petrobras no centro da disputa eleitoral
  
Gustavo Côrtes


 

A oito meses da disputa presidencial, a Petrobras está no centro do debate eleitoral. Até agora, pelo menos cinco précandidatos ao Palácio do Planalto se manifestaram sobre planos para a estatal. As declarações em relação à companhia têm como eixos a política de preços de combustíveis, a privatização da empresa e a corrupção na petrolífera.

Ontem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas pesquisas de intenção de voto, declarou que, se eleito, não pretende manter o preço da gasolina “dolarizado”. “Eu não posso enriquecer o acionista e empobrecer a dona de casa”, disse o petista. Após a afirmação de Lula de que romperia com a atual política de preços de combustíveis, as ações da Petrobras registraram queda na Bolsa.

O modelo de gestão da estatal é um dos principais focos de desacordo entre os presidenciáveis. Pré-candidato do Podemos, o ex-juiz Sérgio Moro afirmou ser favorável à privatização da companhia. “A gente quer diminuir o espaço do Estado na produção da economia. Gerando mais eficiência para a economia, a gente pode privatizar tudo. Agora, tem que fazer o estudo. Em princípio, sou favorável a privatizar tudo o que for possível”, disse Moro ao Estadão.

Desde 2016, no início do governo Michel Temer (MDB), a empresa faz reajustes dos preços de acordo com a flutuação do valor do barril de petróleo no mercado internacional, o que torna o custo doméstico do produto mais suscetível às mudanças do câmbio. Esta orientação foi mantida por Jair Bolsonaro (PL), que chegou a flertar com a ideia de reeditar a política de subsídio dos combustíveis por pressão dos caminhoneiros.

Medidas desta natureza, porém, fizeram a empresa acumular prejuízos no governo Dilma Rousseff (PT), quando o governo manteve os preços mesmo diante do encarecimento da matéria-prima. Como resultado, as margens caíram, assim como o valor das ações. Em fevereiro do ano passado, Bolsonaro demitiu o então presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, por causa de sucessivos reajustes promovidos pela companhia.

‘Histórica’. Defensor de um programa desenvolvimentista, o pré-candidato à Presidência do PDT, Ciro Gomes, se manifestou contra a venda da petroleira. Em vídeo no YouTube, ele cita os motivos pelos quais acredita que adversários têm apoiado a política de paridade internacional. “São duas as razões: fazer a Petrobras ser a queridinha dos estrangeiros para vender e fazer o povo brasileiro odiar a Petrobras”, disse. “Se venderem, eu tomo de volta.” “A ideia da privatização (da Petrobras) é histórica e perpassa toda eleição”, observou o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV-SP. Para o economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, o controle de preços dos derivados do petróleo produziria uma inflação superior no longo prazo e aumentaria o déficit fiscal. “Essa ideia foi adotada no governo Dilma e a Petrobras se tornou a empresa mais endividada do mundo. Se não fosse sustentada também pelos impostos pagos pela população, teria quebrado”, afirmou Camargo.

Fundo. O governador de São Paulo e presidenciável tucano, João Doria, já sugeriu a venda da estatal em um “split de três ou quatro empresas”. A declaração foi dada em recente ‘live’ do grupo Parlatório. Doria defendeu a criação de um fundo regulador, cujos recursos seriam utilizados para suavizar os impactos de flutuações do preço do barril do petróleo. “Quando houver aumento do petróleo nas cotações do mercado internacional, esse fundo regulador impedirá que o aumento se reflita imediatamente no preço do combustível ou do gás”, disse o governador.

Pré-candidata do MDB à sucessão de Bolsonaro, a senadora Simone Tebet (MS), em ocasiões anteriores, já indicou resistência à privatização da Petrobras. Em 2016, ela classificou um projeto apresentado pelo senador José Serra (PSDB-SP) que previa a redução da participação da estatal na exploração do pré-sal como “inoportuna”.

Simone reforçou essa visão em entrevista ao jornal Valor Econômico, em setembro passado. “Se a Petrobras, uma das maiores estatais do mundo, não consegue resolver o problema da dolarização do petróleo do Brasil, você acha que a iniciativa privada vai colocar na ponta do lápis para favorecer toda a população brasileira em detrimento do lucro? Sou a favor da privatização quando há uma razão lógica. Acho difícil alguém provar isso no caso da Petrobras.”

Corrupção. Para Teixeira, as manifestações sobre as políticas de preço e a privatização da Petrobras são reações às elevações do preço dos combustíveis, mas não devem ser fator decisivo na definição dos votos em outubro. No entanto, ele admitiu que o assunto pode elevar a temperatura dos debates caso candidatos decidam explorar a corrupção.

Lula e Moro ensaiaram discursos nessa linha. “(A Petrobras) evoluiu muito, principalmente depois que a gente tirou os diretores corruptos nomeados pelo Lula”, disse o ex-juiz. O ex-presidente, por sua vez, afirmou que quem prejudicou a empresa e o Brasil foram Moro e a Lava Jato./ Colaborou Daniele Jammal

“Essa ideia (controle de preços) foi adotada no governo Dilma e a Petrobras se tornou a empresa mais endividada do mundo. Se não fosse sustentada também pelos impostos pagos pela população, teria quebrado.”

José Márcio Camargo

Economista-chefe da Genial Investimentos

“A ideia da privatização (da Petrobras) é histórica e perpassa toda eleição.”

Marco Antonio Teixeira

Cientista político da FGV-SP