Correio Braziliense, n. 21373, 21/09/2021. Cidades, p. 16

Mulheres sob ameaça constante

Ana Maria Pol
Darciane Diogo


O número de tentativas de feminicídio no Distrito Federal aumentou 32% nos primeiros seis meses deste ano, segundo levantamento mais recente da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), se comparado ao mesmo período de 2020. Ontem, a Polícia Civil prendeu o homem acusado de tentar matar a ex-mulher dentro de um açougue, no Paranoá. A vítima, de 29 anos, levou diversos golpes de faca após negar reatar o relacionamento. Euriques Pereira da Silva, 41, que acumula passagens por porte ilegal de armas e Lei Maria da Penha, foi encaminhado à carceragem da PCDF.

O crime aconteceu na tarde de domingo. A vítima conversava com uma colega dentro de um açougue, na QL 02 do Conjunto F do Paranoá, quando Euriques chegou ao local aparentando embriaguez. Segundo as investigações conduzidas pela 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá), o homem tentou reatar o relacionamento, mas ela não quis. "Ao ver que o celular da vítima tinha tocado, ele pegou uma faca do estabelecimento e a esfaqueou", detalhou o delegado-chefe da 6ª DP, Ricardo Viana.

Após o crime, o suspeito fugiu em um Gol. O carro foi encontrado e apreendido por policiais militares poucas horas depois do ocorrido, na pista de atletismo próximo à rodoviária do Paranoá. Os PMs encontraram a faca que teria sido usada no crime.

Ferida na cabeça, nos braços e nas costas, a vítima foi socorrida imediatamente por pessoas que estavam próximas e levada ao Hospital Regional do Paranoá, onde passou por cirurgia. A jovem se recupera bem e não corre risco de morte. No começo da tarde de ontem, a Justiça deferiu o mandado de prisão contra Euriques, e a PCDF divulgou a foto do acusado como foragido. Em menos de cinco horas, os agentes o localizaram escondido na casa do irmão, na Quadra 1 do Itapoã.

Retrato da tragédia

O DF registrou 17 vítimas de feminicídio, o que representa cerca de 64% das mulheres assassinadas de janeiro até 1º de julho. Outras nove mortes de mulheres não foram em decorrência de gênero. O índice deste ano é o maior da série histórica desde 2015, de acordo com o balanço da SSP-DF. O segundo maior índice registrado se deu em 2018, quando 57% dos homcídios de mulheres foram tipificados como feminicídios.

O meio mais empregado pelos autores nos feminicídios consumados no DF foi a arma branca, com percentual de 47,1%. A arma de fogo aparece em seguida, com 23%; asfixia, com 17%; objeto contundente, com 5%; e agressão física, com 5%. "Isso faz parte da dinâmica da violência. Como as agressões acontecem, normalmente, em casa, os ex-companheiros ou atuais utilizam as armas mais acessíveis, como a faca. Pesquisas nacionais e internacionais apontam que, apesar de a arma de fogo estar associada a boa parte dos crimes violentos, no caso dos feminicídios, as armas brancas são as mais utilizadas", explicou Fabrício Lemes Guimarães, psicólogo e especialista em violência.

Das 17 vítimas de feminicídio, 47,1% delas tinham de 30 a 49 anos, seguido pelas mulheres de 40 a 49 anos (29,4%) e mais de 50 anos e jovens de 18 a 29 anos (11,8%). Em relação aos autores, os índices têm semelhanças: 30 a 49 anos (47,1%); 40 a 49 anos (35,3%); e 18 a 29 anos (17,65%).

Neste ano, as regiões administrativas que registraram feminicídio foram Sobradinho (3), Paranoá (3), Samambaia (2), Ceilândia (2), Planaltina (1), Santa Maria (1), São Sebastião (1), Sobradinho 2 (1), Taguatinga (1), Estrurutal (1) e Itapoã (1).