O Estado de S. Paulo, n. 46908, 23/03/2022. Política, p. A7

Congresso faz ofensiva para apurar atuação de religiosos no ministério

Lauriberto Pompeu
Renata Cafardo
Julia Affonso
André Shalders
Davi Medeiros
Natalia Santos


 

A atuação de um grupo de pastores para liberar verbas públicas no Ministério da Educação provocou reações no Congresso, chegou ao Ministério Público, ao Judiciário, ao Tribunal de Contas da União (TCU) e culminou em uma série de pedidos para investigar o titular da pasta, Milton Ribeiro. Pelo menos uma das ações mira também o presidente Jair Bolsonaro (PL). No fim do dia, deputados e senadores começaram a colher assinaturas para a criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) com o objetivo de apurar o gabinete paralelo em funcionamento no MEC.

No Congresso, até aliados do governo cobraram uma investigação. "Não pode haver dúvidas com relação à seriedade tanto do trabalho do ministro, principalmente da Educação, quanto do ministério", afirmou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Parlamentares afirmaram que vão acionar a Procuradoria-geral da República para que Ribeiro seja investigado por suspeita de improbidade. Os deputados Kim Kataguiri (União Brasil-sp) e Túlio Gadelha (PDTPE) protocolaram pedidos para que a PGR apure as denúncias. O pedetista apresentou requerimento para que Ribeiro seja convocado a prestar esclarecimentos na Câmara.

O senador Alessandro Vieira (PSDB-SE), os deputados Felipe Rigoni (União-es), Tabata Amaral (PSB-SP) e o secretário municipal de Educação do Rio, Renan Ferreirinha (PSD), também entraram com ação na PGR. Em conversa gravada, Ribeiro admitiu dar prioridade ao atendimento a prefeitos que chegam ali por meio dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, como noticiou o jornal Folha de S. Paulo.

CPI. Presidente da Frente Parlamentar Mista da Educação, o deputado Professor Israel (PV-DF) disse estar confiante na criação da CPI Mista para investigar suspeitas de irregularidades no MEC. Para ser aberta, uma comissão precisa do apoio de 172 deputados e de 26 senadores.

A liderança da Minoria na Câmara encaminhou, ainda, ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, uma representação contra Bolsonaro e Ribeiro pelos crimes de advocacia administrativa e prevaricação.

Em outra frente, uma representação chegou ao TCU. Ontem, segundo interlocutores, o próprio Ribeiro teria admitido que pode deixar a pasta e indicar o secretário executivo Victor Godoy Veiga para o seu lugar. / Colaboraram J.A., A.S., Davi Medeiros e Natalia Santos