O Estado de S. Paulo, n. 46903, 18/03/2022. Política, p. A8

Chefe da PF troca diretor de setor que investiga Bolsonaro

Pepita Ortega


 

Vinte dias após a quarta troca na chefia da Polícia Federal durante o governo Jair Bolsonaro, a corporação oficializou ontem a substituição do titular de um posto-chave responsável por apurações que incomodam o Palácio do Planalto: a Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado e à Corrupção (Dicor). O delegado Luis Flavio Zampronha, que liderou as investigações do mensalão e da Operação Spoofing, foi exonerado e substituído por Caio Pellim, que chefiava a Superintendência da Polícia Federal no Ceará desde junho de 2021.

A Dicor abriga dois dos setores mais sensíveis da PF: o que cuida de inquéritos abertos contra políticos e autoridades e o que investiga casos de corrupção. Entre os alvos de investigações da diretoria está o próprio presidente Jair Bolsonaro, que é alvo de inquérito justamente por suspeita de tentar interferir politicamente na PF para blindar aliados. A investigação foi aberta após denúncia do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro – hoje pré-candidato ao Planalto pelo Podemos – ao deixar o governo, em abril de 2021.

A mudança foi publicada ontem no Diário Oficial da União. Assim como ocorreu quando o atual diretor-geral da PF, Márcio Nunes, foi nomeado, em fevereiro, a portaria que chancelou a troca na Dicor foi assinada pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, líder do Centrão e dirigente do Progressistas.

Mudanças. Na mesma portaria foi registrada mudança também na Diretoria de Gestão de Pessoal da PF. O delegado Oswaldo Paiva da Costa Gomide foi substituído pela delegada Mariana Paranhos Calderon. Caio Pellim assume o cargo após atuar como superintendente da PF em três Estados: Rondônia (2017-2020), Rio Grande do Norte (20202021) e Ceará (desde junho de 2021). Antes disso, foi delegado regional executivo em Mato Grosso do Sul.

Mudanças nos cargos-chave são esperadas desde a nomeação de Márcio Nunes, amigo e homem de confiança do ministro da Justiça, Anderson Torres, na chefia da PF. A troca do delegado Paulo Maiurino por Nunes pegou de surpresa delegados da PF. A avaliação é a de que substituições frequentes no comando da corporação fragilizam a instituição e geram consequências administrativas e de gestão, que podem prejudicar a celeridade e a continuidade do trabalho. 

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