Correio Braziliense, n. 20617, 03/11/2019. Brasil, p. 7

Óleo chega a Abrolhos
Simone Kafruni


Área mais rica em biodiversidade da América do Sul, o arquipélago dos Abrolhos foi atingido pelas manchas de óleo do vazamento de petróleo cru que assola o litoral brasileiro. Ontem, a Marinha confirmou que fragmentos do óleo foram encontrados na Ilha de Santa Bárbara, uma das cinco que compõem o arquipélago, mas que não faz parte do Parque Nacional Marinho de Abrolhos.

Equipes atuam no local para a remoção do material, que também foi encontrado em Ponta da Baleia, em Caravelas. A localização do resíduo de petróleo cru foi informada pelo Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA), formado pela Marinha do Brasil, pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) e pelo Ibama.

Moradores da praia de Caravelas, no sul da Bahia, área central do Parque Nacional Marinho de Abrolhos, disseram que têm apenas 20 kits de equipamentos de proteção individual, os chamados EPIs. Como o material é tóxico, é necessário usar máscara, luvas, botas e macacão durante a limpeza do óleo. Contudo, o clima em Caravelas é de improvisação: até mesmo crianças coletaram pelotas de óleo sem os materiais de proteção.

Anna Carolina Lobo, gerente dos Programas Mata Atlântica e Marinho do WWF-Brasil, lamenta o que considera “a maior tragédia da história na costa marinha”. “Essa situação mostra que o Brasil não está preparado para lidar com acidentes ambientais. Quando há qualquer desastre próximo a áreas de proteção ambiental, como Abrolhos, quando há qualquer desastre, não tem como resolver”, afirmou.

Segundo a especialista, os resíduos demoram mais de 20 anos para desaparecerem. “O óleo provoca zonas mortas em corais e nos manguezais, que podem não se recuperar nunca. São muito frágeis e importantes para a resiliência costeira, para proteção”, alertou. De acordo com ela, um estudo mostra que, onde há um metro branqueado de coral, as ondas aumentam e chegam com mais força na costa.

“Além disso, é um óleo muito tóxico, não só para os ambientes costeiros, mas para a saúde humana, porque tem propriedades cancerígenas. E temos peixes e crustáceos contaminados”, assinalou. Segundo a gerente do WWF-Brasil, a Vigilância Sanitária teria que fazer pesquisas em tudo. No entanto, não há monitoramento nem fiscalização de áreas marinhas. “O país não tem uma política séria para recursos pesqueiros. Não é do atual governo, acontece há muito tempo, lamentavelmente”, disse.