O Estado de S. Paulo, n. 46897, 12/03/2022. Política, p. A16

Deputados do PL cobravam 25% para enviar emendas, diz PF

Breno Pires
Pepita Ortega


 

A Polícia Federal cumpriu ontem mandados de busca e apreensão em endereços ligados a três deputados do PL, partido do presidente Jair Bolsonaro. Um dos alvos foi Josimar Maranhãozinho (MA), flagrado em dezembro com maços de dinheiro em investigação sobre esquema de desvios de emendas parlamentares. Os outros dois congressistas que tiveram endereços vasculhados foram Bosco Costa (SE) e Pastor Gil (MA).

Segundo a PF, os três são suspeitos de cobrar propina de 25% sobre o valor de emendas destinadas ao Maranhão. Verbas da saúde desviadas do Orçamento da União retornariam aos deputados por meio de um esquema criminoso que envolveria até ameaças. O valor cobrado, afirmou a PF, é de R$ 1,7 milhão, que corresponde a 25% das emendas enviadas por Maranhãozinho, Pastor Gil e Bosco Costa a municípios maranhenses.

Para a PF, é "estranho" um deputado do Sergipe, caso de Bosco Costa, enviar "emendas de alto valor" (R$ 4 milhões) para o Maranhão. Isso, na avaliação dos investigadores, indicaria que "este Estado pode ter se tornado um 'paraíso' para o desvio de emendas".

A investigação sustenta que Maranhãozinho "está à frente da estrutura criminosa, capitaneando não somente a destinação dos recursos públicos federais oriundos de emendas (próprias e de outros parlamentares comparsas) para os municípios, mas orientando a cobrança (utilizando, inclusive, de estrutura operacional armada), ao exigir dos gestores municipais a devolução de parte dessas verbas".

Agiota. A operação é um desdobramento da Ágio Final, iniciada no Maranhão em dezembro de 2020, após denúncia de um prefeito maranhense. Ele relatou à PF que um agiota conhecido como "Pacovan" cobrava propina e dizia que atuava para parlamentares. A PF apreendeu uma lista com nomes dos deputados agora sob investigação.

Os mandados foram expedidos pelo ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, e foram cumpridos nas residências dos parlamentares e escritórios em suas bases. Os investigadores solicitaram diligências nos gabinetes na Câmara, mas o pedido foi indeferido pelo ministro. A Procuradoria-geral da República recorreu, mas o plenário do STF manteve a decisão, em sessão virtual.

Em nota publicada nas redes sociais, Maranhãozinho afirmou que colabora com as investigações "sem medo e restrição". "Por esta razão não consigo entender a espetacularização do ocorrido." Também por meio de nota, Pastor Gil disse que "jamais" participou de "nada que ferisse a legislação". Procurado, Bosco Costa não se manifestou até a conclusão desta edição.