O Estado de S. Paulo, n. 46896, 11/03/2022. Política, p. A11

Leite antecipa movimento por candidatura após saída de Pacheco

Lauriberto Pompeu


 

Um dia depois de o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), desistir de lançar candidatura ao Palácio do Planalto, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), se apresentou para a disputa. Leite retornará dos Estados Unidos no domingo e, logo depois, vai se reunir com aliados tucanos. O plano é deixar o governo no fim deste mês, migrar para o PSD e concorrer à sucessão do presidente Jair Bolsonaro. "Estamos com pressa", disse ele.

Derrotado nas prévias do PSDB que, em novembro, indicaram o governador de São Paulo, João Doria, como pré-candidato do partido à Presidência, Leite tem sido alertado por correligionários de que pode ficar com a pecha de "mau perdedor", pois se comprometera a aceitar o resultado da votação. Até agora, porém, ele parece disposto a enfrentar o desgaste.

"Estou discutindo a possibilidade de uma candidatura, mas, claro, não será uma decisão pessoal", afirmou o governador, ontem, em Washington. "A candidatura a presidente tem que ter mais líderes e condições de suporte. Estamos, nas próximas semanas, discutindo isso porque a legislação eleitoral no Brasil demanda que eu renuncie ao cargo de governador até o fim deste mês", completou.

Aliados. Apesar do discurso cauteloso, o governador já prepara sua candidatura ao Planalto. Além disso, alguns de seus principais aliados no Rio Grande do Sul também se movimentam em direção ao PSD. Estão nesta lista o secretário de Apoio à Gestão Administrativa e Política do governo gaúcho, Agostinho Meirelles, que se filiou ao PSD há duas semanas, e Ana Amélia Lemos, secretária de Relações Federativas e Internacionais do Rio Grande do Sul, que também deve entrar no partido para concorrer novamente ao Senado. Na campanha de 2018, Ana Amélia, do Progressistas, foi vice na chapa do então tucano Geraldo Alckmin.

O ex-governador paulista deixou o PSDB e deve fazer dobradinha com o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Pacheco, por sua vez, quer o apoio de Lula para disputar novo mandato ao comando do Senado, em 2023.

No PSDB, Leite vai conversar com o ex-senador José Aníbal (SP), o senador Tasso Jereissati (CE), o deputado Aécio Neves (MG) e outros tucanos que trabalharam por ele nas prévias. Na prática, o grupo do gaúcho está dividido e uma ala avalia que sua saída das fileiras tucanas é um erro. Alguns acham, inclusive, que ele deveria lutar dentro do próprio PSDB para tentar derrotar Doria na convenção do partido, marcada para julho.

"Esse cara (Doria) está levando o PSDB para uma situação difícil. Quase todo mundo está estressado, não confia na candidatura dele, não confia nele e começa a ver que isso põe em risco o desempenho do partido na perspectiva de fazer uma bancada melhor que a atual", afirmou Aníbal.

PSD. Há no PSDB, no entanto, os que temem que Leite fique "refém" do presidente do PSD, Gilberto Kassab, e de líderes da sigla avessos à candidatura própria. Para esse grupo, o partido deve investir no aumento da bancada na Câmara dos Deputados, e não numa chapa presidencial. Muitos também desconfiam da intenção de Kassab, que, segundo políticos, gostaria de ter sido vice de Lula. Ele nega, mas admite apoiar o petista em eventual segundo turno, dependendo dos rumos da disputa.

Resultado da fusão entre o DEM e o PSL, o União Brasil resolveu lançar o deputado Luciano Bivar (PE) como pré-candidato ao Planalto (mais informações nesta página). Nos bastidores, o comentário é o de que ele quer, mesmo, ser vice em alguma chapa da terceira via. Na propaganda partidária, que foi ao ar ontem, o União anunciou que terá candidato à Presidência, mas não disse quem.

No PSDB, Doria não decolou nas pesquisas, mas Leite também não passa de 3% das intenções de voto. Um grupo defende uma aliança entre Leite e a senadora Simone Tebet (MS), pré-candidata do MDB. Simone tem dito que não aceita ser "plano B" na disputa.