O Estado de S. Paulo, n. 46985, 10/03/2022. Economia & Negócios, p. B4

Governo aposta em corte de imposto e em reajuste escalonado

Adriana Fernandes
Eduardo Gayer
Daniel Weterman


 

Sem ter nas mãos uma bala de prata para conter o impacto da alta do petróleo no mercado internacional, o governo optou por ganhar tempo e colocar as suas fichas na redução dos impostos sobre combustíveis antes de decidir pela adoção de um subsídio para que a Petrobras segure o reajuste de preços para os consumidores. O subsídio pode custar em torno de R$ 12 bilhões por mês, e a estratégia é esperar o efeito da queda dos impostos na bomba.

Nas reuniões de ministros com o presidente Jair Bolsonaro para encontrar uma saída, o governo também discutiu a possibilidade de a Petrobras escalonar os reajustes e não aumentar toda a defasagem de preços de uma só vez.

Nesse cenário, o reajuste seria feito numa velocidade menor. Por exemplo, se a empresa precisar subir R$ 1,80 para acompanhar o preço do petróleo, a ideia é que a Petrobras possa fazer um aumento menor inicialmente, deixando o restante para um segundo momento com a empresa administrando os seus contratos. No período, o preço dos combustíveis pode ficar menor com a redução de impostos, podendo levar a uma queda em torno de R$ 0,70 no diesel para o consumidor.

A estratégia dá tempo para o governo monitorar os desdobramentos do preço do mercado internacional enquanto o cenário da guerra e os efeitos das sanções comerciais à Rússia fiquem mais claros. A expectativa é de que os efeitos da desoneração possam diminuir a pressão. Bolsonaro não bateu o martelo pela adoção do subsídio, mas fontes do Palácio do Planalto informam que proposta não saiu da mesa.

Balançando no cargo, o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, insistiu nas reuniões em Brasília da necessidade da aprovação do subsídio e dos riscos de os dirigentes da empresa serem responsabilizados por perdas à empresa se não seguirem a política de paridade de preços internacionais, prevista no seu estatuto.

Riscos. Silva e Luna alertou aos ministros para o risco de desabastecimento num cenário de preços artificiais, principalmente de diesel, que depende de importação. Ele avisou que não tem apego ao cargo e que não adotará medidas que ponham em risco a credibilidade e as finanças da empresa.

Como mostrou o Estadão, cerca de 300 navios com óleo diesel anualmente chegam aos portos brasileiros, com uma média de 1,5 bilhão de litros por mês. Sem poder repassar a alta do preço internacional para os postos de abastecimento, as importações podem ser suspensas, até que o mercado se normalize.

Para essa estratégia de ganhar tempo dar certo, o governo vai precisar do apoio do Congresso na aprovação do Projeto de Lei Complementar 11. O projeto, ao alterar a forma de cobrança do ICMS (tributo cobrado pelos Estados) incidente sobre os combustíveis, sofre resistências dos Estados. 

Fazendo contas

R$ 18 bi

é o custo estimado da isenção do PIS e Cofins do diesel, a ser inserida no Projeto de Lei Complementar 11. O projeto altera a forma de cobrança do ICMS (tributo cobrado pelos Estados) incidente sobre os combustíveis.