O Globo, n. 31546, 20/12/2019. País, p. 5

MP: família de miliciano devolveu 20% do salário
Bernado Mello
Juliana Castro
Juliana dal Piva


O Ministério Público do Rio afirma que a mãe e a ex-mulher de Adriano Magalhães da Nóbrega, acusado de ser miliciano, transferiu para o ex-assessor Fabrício Queiroz quase 20% (cerca de R$ 203 mil) dos salários recebidos por elas no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. O MP argumenta que familiares de Adriano, ex-oficial do Bope, faziam parte de um esquema de “rachadinhas” no gabinete de Flávio, e que o próprio miliciano também tirava proveito dos recursos.

Danielle Mendonça da Costa e Raimunda Veras Magalhães, respectivamente ex-mulher e mãe de Adriano, receberam um total de R$ 1,029 milhão em salários na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), segundo a investigação.

Parte dos valores referentes aos salários de Danielle foi repassada a Queiroz, segundo o MP, por meio das contas bancárias de duas pizzarias que seriam controlados por Adriano da Nóbrega — cerca de R$ 72,2 mil — e também através da conta bancária de Raimunda, antes de sua nomeação na Alerj — cerca de R$ 43,3 mil.

A investigação também aponta que Danielle e Raimunda sacaram em espécie R$ 202,1 mil no período analisado. A ex-mulher de Adriano esteve lotada no gabinete de Flávio de setembro de 2007 a novembro de 2018. Raimunda, por sua vez, ficou nomeada entre maio de 2016 e novembro de 2018. O MP argumenta que há indícios de que elas eram funcionárias fantasmas no gabinete.

Um dos indícios apresentados pelo MP são trocas de mensagens entre Queiroz e Danielle, em maio e dezembro de 2017, nas quais o ex assessor tenta marcar um encontro fora da Alerj para entregar os contracheques de Danielle e pede que ela informe os valores depositados em sua conta bancária, a fim de “prestar contas”.

Danielle também trocou mensagens com o ex-marido, e o MP aponta que os diálogos demonstram que o acusado de integrar a milícia também ficava com dinheiro da Alerj.

“Contava com o que vinha do seu também”, escreveu Adriano, o que, para o MP, é referência ao salário da Alerj.