Título: Desatado mais um nó da reforma ministerial
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 18/03/2005, País, p. A2

Ciro Nogueira assume a Comunicação, Eunício, a Integração e Roseana, Cidades

Durante a viagem de retorno a Brasília anteontem do Rio Grande do Sul, onde visitou municípios atingidos pela seca, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma recomendação ao ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto: os ministros gaúchos deveriam se entender para abrir espaço na Esplanada aos aliados.

O aviso de Lula foi interpretado no Palácio do Planalto como a senha para a saída do ministro Olívio Dutra do Ministério das Cidades, o que desataria um dos principais nós da reforma, abrindo a vaga para o PMDB. Confirmada a saída de Olívio das Cidades, estaria dado o sinal verde para o acordo celebrado na noite de anteontem numa reunião entre o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e o senador José Sarney (PMDB-AP).

Pelo acerto o PP ficaria com o ministério das Comunicações (deputado Ciro Nogueira) e o PMDB com a Integração Nacional (Eunício Oliveira) e Cidades (Roseana Sarney). A expectativa é que a senadora, hoje no PFL, se filie ao partido em breve.

Ontem, os pepistas já davam com certa a ida para as Comunicações. Por volta das 2 horas da madrugada de quinta, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), disparava telefonemas para lideranças políticas de PT e PP contando a boa nova:

- Está fechado. É Ciro Nogueira nas Comunicações - disse para um petista.

O líder do partido José Janene (PP-PR), também deu o caso como encerrado:

- Teremos o Ministério das Comunicações e o ministro será mesmo Ciro Nogueira - confirmou.

No início da tarde, no entanto, Renan, um dos mais assíduos interlocutores do Planalto nos últimos dias, mantinha a cautela. E condicionava a saída de Eunício das Comunicações a ''um cenário em que o PMDB saísse fortalecido''. Ou seja, desde que fosse confirmado nas mãos do partido o ministério das Cidades.

- O PMDB não abriu mão. As Comunicações ainda são uma prioridade - afirmou.

O mesmo discurso adotava o líder do partido na Câmara, deputado José Borba (PMDB-PR):

- Não damos nada como perdido nem como garantido. Aguardamos a palavra final do presidente - disse Borba.

À noite, porém, um telefonema do Planalto, sinalizando que o acordo estaria próximo de ser fechado, deixou os peemedebistas mais aliviados. Um dos empecilhos para o acordo, uma suposta resistência de Ciro em deixar a vaga para Eunício, pelo fato de terem semelhantes projetos políticos no Ceará, também teria sido removido.

- Eunício tem todas as credenciais para ser ministro de qualquer coisa inclusive da Integração - disse Ciro por meio da assessoria.

O remanejamento de Ciro Gomes para o Ministério da Saúde, no lugar de Humberto Costa, e a do senador Romero Jucá (PMDB-RR) para a Previdência, na vaga de Amir Lando, receberam o aval de Lula e só aguardariam o anúncio oficial.

O argumento usado pelo presidente Lula, em conversas reservadas, para a saída de um ministro gaúcho da Esplanada é de que haveria no ministério hoje um desequilíbrio regional, gaúchos e paulistas. Hoje são quatro gaúchos na Esplanada. Além de Olívio e Rosseto, o ministro da Educação, Tarso Genro, e a ministra das Minas e Energia, Dilma Roussef. A reforma, que deve ser anunciada na próxima semana, consertaria essa distorção.

Ontem, Lula dedicou o dia para resolver os últimos impasses para a reforma. Ainda faltaria resolver a Coordenação Política. O cargo deve ficar com o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). O atual ministro Aldo Rebelo poderia ser deslocado para o ministério do Trabalho, no lugar de Ricardo Berzoini.