Correio Braziliense, n. 20623, 09/11/2019. Política, p. 4

Mercado reage mal à decisão do Supremo

Simone Kafruni


O mercado sentiu o golpe da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e à saída do ex-presidente Lula da prisão em Curitiba. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), fechou em queda de 1,78%, e o dólar subiu a R$ 4,17. Na semana, a bolsa acumulou baixa de 0,72%, interrompendo uma sequência de quatro altas semanais. Já a moeda norte-americana teve a maior alta semanal desde agosto de 2018.

De acordo com Cristiano Noronha, vice-presidente da Arko Advice, consultoria de análise política, existe uma certa cautela do mercado, porque há uma preocupação de que o ex-presidente em liberdade possa estimular a polarização no país. “Lula pode viajar, organizar a resistência em relação ao governo, mobilizar movimentos sociais para fazer uma oposição mais organizada no tocante à aprovação das reformas”, avaliou.

Para Renan Silva, economista da BlueMetrix Ativos, ocorreu realização de lucros na bolsa. “Não houve pânico nem repique no Risco Brasil, que continua de forma comedida”, ponderou. “O câmbio subiu um pouco mais forte. Isso, sim, pode denotar alguma sensibilidade à decisão do STF. Mas ainda longe de alguma tendência de aversão ao risco. O mercado está pautado nas reformas”, disse. Segundo ele, o cenário externo não influenciou, porque foi abrandado com negociações favoráveis entre China e Estados Unidos.

Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, sustentou que a revogação da prisão de Lula expõe a insegurança jurídica. “Não é que o país estava bom e deixou de ficar, mas há uma ruptura quando o Judiciário muda de posição. Gera um grau de aversão maior, e os investidores ficam mais reticentes”, afirmou. “Independentemente da liberação de um partido A ou B, decisões jurídicas que possam ser sobrepostas não são vistas muito bem pelos investidores. Estamos com reformas importantes para o andamento da economia. O investidor, especialmente o de fora, precisa de segurança, previsibilidade e estabilidade para incorrer em investimentos.”

“Não é que o país estava bom e deixou de ficar, mas há uma ruptura quando o Judiciário muda de posição. Gera um grau de aversão maior, e os investidores ficam mais reticentes”

Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos